terça-feira, janeiro 02, 2007

568 - a fanga e o frango

Os racionais e os animais.
Racionais, provavelmente, vem de ração... ração era o que os «ricos» compravam para alimentar o gado.
Considero-me uma pessoa rica, rica porque fui criado na «pobreza», rico, pois, é na privação que se forja o carácter.
Recordo-me quando era miúdo na alegria que sentia quando almoçava fora e comia um bife (de vaca) com batatas fritas...
Arredores de Lisboa, ano de 2007:
- Podia pedir dois, vizinho
- Quer com ou sem picante?
- Sem picante
- Desculpe, não é um, são dois... o segundo é sem picante, sim... pese separado
- 4.84 euros cada (coincidência)
(...)
A histórinha com letras pequenas aconteceu-me hoje, eu era o vizinho que estava à frente na fila e senti-me «violentado», primeiro porque seria incapaz de pedir algo semelhante, existem senhas, aguarda-se a vez... depois porque é daqueles pedidos irrecusáveis, há pessoas que no mesmo pedido pedem três, quatro frangos, não é incorrecto pedir dois, mas, para mim é... foi.
A imoralidade (tenho plena consciência que aquilo que é imoral para uns poderá não o ser para outros) é projectarmos a nossa moral (ou a falta dela) em outros.
A riqueza e a pobreza, também, não se medem facilmente... aquele homem que é mais rico que eu (se considerarmos riqueza «o deve» e «o haver») comprou um frango para ele, para a mulher e para o filho (entre 20 e 30 anos) eu comi um frango semelhante (codornizes, como lhes chamo) sozinho e «não levei fama de valente».
... perguntava o meu amigo António, os amigos não se servem de nós como trampolins, os amigos estão, simplesmente.
Numa sociedade cada vez mais desmedida apetece-me recordar as medidas antigas, sábias... quadrados de madeira - fangas* - erguidos com esforço, cheios de azeitona negra padejada com suor e sorrisos...
Apetece-me recordar no menino que fui o homem que sou, apetece-me pensar que não somos a quantidade de dinheiro que temos no banco, muito menos o que lhes devemos, apetece-me pensar que credibilidade é muito mais que um cartão de crédito dourado.
* fanga
do Ár. fanka por fanika, saco grande
s. f.,
antiga medida de cereais e sal de quatro alqueires;
medida de carvão de oito alqueires;
lugar ou casa onde se vendiam cereais por estiva;
arrendamento por medidas no Ribatejo.
[para mim fanga é uma medida para «pesar» azeitona, de madeira com pegas, a fanga e a meia fanga...]

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Volume seco-cereal e azeite.
Unidade: Alqueire

Volume-vinho:
Unidade:Almude

Volumes secos:
Unidade:Alqueire
Múltiplos:Fanga
Submúltipos: Meio alqueire
Quarta=(meio-Alqueire)
Oitava= (1/2- quarta)

Volumes-Liquidos:
Unidade-Almude
Canada=(1/12 almude)
Quartilho=(1/2 meia canada)

Isto vem a propósito que na Quinta da Gorda ,(localizada entre Constância e Montalvo) ,havia outra medida, muito conhecida pelo pessoal da minha geração.
A cèlebre "CORNADA".Tratava-se de um corno de boi pelo qual se bebia tinto e o branco ou seja a boa pinga.

Quem Somos...

Enfim,depois de tanto erro passado
Tantas retaliações,tanto perigo
Eis que resurge noutro o velho amigo
Nunca,perdido,sempre rencontrado.
É bom sentà-lo novamente ao lado
Com os olhos que contèm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular amigo.
Um bicho igual a mim,simples e humano
Sabendo se mover e comover
E disfarçar com o meu próprio engano
O amigo:um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver o outro nascer
E o espelho da minha alma multiplica.


Soneto do amigo (Vinícius de Moraes)

quarta-feira, janeiro 03, 2007 4:38:00 da tarde  
Blogger david santos said...

Olá Pedro!
Ainda falta a arroba: 15 quilos. Quanto à cornada que o MARQUES ali expôs, ela também tinha uma medida aproximada, embora variada, mas pelo tamanho dos animais havia, já lá vão muitos anos, quem soubesse com rigor qual era a quantidade de líquido que cada cornada continha.
Parabéns pelo trabalho.

quinta-feira, janeiro 04, 2007 12:14:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Não sabia o que era uma fanga.
Grata pela explicação.

"Um" frango para "um"?! Bolas!

quinta-feira, janeiro 04, 2007 7:31:00 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

Meus amigos (e amiga) vou procurar indagar qual a capadidade da cornada (consegui escrever isto sem me rir, bem ri-me só um bocadinho).
Pensei que tinha deixado claro que o frango era pequenino (até lhe chamei codorniz).

quinta-feira, janeiro 04, 2007 10:19:00 da tarde  
Blogger António Almeida said...

a cornada depende da capacidade de "encaixe" do corneado...
e voltamos ao Ribatejo, terra de touros e toureiros!

quinta-feira, janeiro 04, 2007 11:44:00 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

Então?
Quem bebe pela cornada chama-se: corneador.
Quem bebe chama-se: bebedor
Bedida e dor estão muitas vezes ligadas, às vezes «a miséria e as desgraças» também como dizia Manuel Marques no «post» 560.
Outras vezes apenas alegria, convívio e desabafos... «in vino veritas».

sexta-feira, janeiro 05, 2007 12:24:00 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home

não é o fim, nem o princípio do fim, é o fim do princípio