sexta-feira, julho 10, 2009

2150 - escrever e escutar o fado


Este apelido em mim, que pouco valho,
Da minha honestidade é forte indício.
Sou Marceneiro, sim, porque trabalho,
Marceneiro no fado e no ofício.
Mar, ceneiro.
Gajo que faz cenas no mar.
Há um zarolho que, dizem, nadava com único braço, com única mão, que escreveu o fado da nação.
(qual seria o mão [a esquerda?] que nadava, qual seria a mão que segurava o escrito [a direita?] o que seria mais importante, nadar, segurar ou salvar, como mudar de mão sem molhar/salgar o futuro?).
Tive um tio já morrido, que se chamava Alfredo, recordo-o com rugas e silêncios, o meu tio Alfredo tinha muitas rugas mas tinha, ainda, mais sorriso.
Oiço Alfredo, o fadista... suponho-o assim, com um sorriso rugoso talhado na sabedoria.
Meu avô morrido, caído da ponte, marceneiro, carpinteiro, bicicleta trocista, ciclista por necessidade, não por vaidade, morrido com trinta e poucos anos de vida, três crianças sem um beijo de despedida...
Esculpir a madeira, talhar o destino, tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado.
Pressionar palavras, imaginar futuranças, quando não se desiste, nada é triste, tudo são esperanças.
Passado e presente.
Presente e futuro.
Projectar o destino...

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Às más notícias o fado dá asas.

Abraço,bom fim de semana.

sexta-feira, julho 10, 2009 8:48:00 da tarde  

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não é o fim, nem o princípio do fim, é o fim do princípio