segunda-feira, dezembro 19, 2005

87 - quando um homem quiser

Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e combóios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher

José Carlos Ary dos Santos

3 Comments:

Blogger António Almeida said...

Que saudade!

segunda-feira, dezembro 19, 2005 9:46:00 da tarde  
Blogger José Carlos Gomes said...

O extraordinário na poesia do Ary dos Santos é que ao ler-se um poema dele parece que ouvimos o poeta a dizê-lo com a energia que só ele imprimia aos textos. Ainda pensei que fosse ilusão e que se devesse ao facto de eu ter ouvido gravações de Ary lendo os seus poemas. Esta desconfiançazinha pessoal caiu por terra com o texto publicado neste blogue, uma vez que era para mim totalmente desconhecido e eu, ao lê-lo, parecia que estava a ouvi-lo dito pelo poeta. Inconfundível!

terça-feira, dezembro 20, 2005 12:57:00 da manhã  
Blogger pedro oliveira said...

Tens razão Zé, sinto muitas vezes o mesmo.
Este poema foi cantado pelo Paulo de Carvalho.
Como podemos não nos sentir tocados por palavras como estas: "Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e combóios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar"

terça-feira, dezembro 20, 2005 7:49:00 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home

não é o fim, nem o princípio do fim, é o fim do princípio