quinta-feira, março 09, 2006

220 - fátima, futebol e fado

«A bola que entra ou não

O mês de Maio foi fértil em acontecimentos que nos obrigam a reflectir na sociedade que temos e na sociedade que queremos.
A sociedade que temos não mudou muito. Passámos, apenas, de uma época que se definia em três Fés (Fátima, Futebol e Fado) para outra que se define em três Éfes (Fátima, Futebol e Fado).
Bem sei que este tema já foi abordado n’ Abarca pelo seu chefe de redacção – António Carvalho – mas permito-me retomá-lo pela actualidade que esta reflexão encerra.
Mesmo que Fátima no sec. XXI, não seja a localidade no concelho de Ourém, não seja a senhora que aparece, seja a senhora que desaparece de Felgueiras e de Portugal.
Vinte e nove anos depois, o episódio Felgueiras foi um bom exemplo daquilo que a nossa democracia (não) é. Pior que a fuga, foi a desculpa: “ Fui eleita” como se a palavra eleita não encerrasse em si própria a palavra lei, como se os autarcas em particular e os políticos em geral estivessem acima da lei. Tenho para mim que os actos de gestão política deverão ser julgados pelos eleitores mas os crimes (roubo, peculato, corrupção, pedofilia) terão, forçosamente, de ser julgados nos tribunais.
Mesmo que Futebol no séc. XXI, seja, não o jogo dentro das quatro linhas mas os dez estádios que estão a ser construídos com o nosso dinheiro (parto do princípio que os leitores, tal como eu, acreditam que os impostos, mais que imposição, como o nome parece indicar, são um dever de cidadania e que só cumprindo deveres podemos exigir direitos).
A final de Sevilha entre o Futebol Clube do Porto, Sociedade Anónima Desportiva e o Celtic foi um bom exemplo desse futebol jogado fora das quatro linhas a que atrás me referi.
O que se discutia em Sevilha era, apenas, um jogo de futebol. O F.C.P. SAD procurava vencer pelo prestígio mas, também, pelo reflexo positivo que a vitória poderia ter na valorização das suas acções cotadas em Bolsa.
Foi com grande estranheza e perplexidade que assisti à embaixada de governantes liderada pelo Sr. Primeiro Ministro e à presença do Sr. Presidente da República. Maior estranheza me causou a forma como comemoraram os golos de um cidadão brasileiro e de um cidadão russo... se estavam ali como adeptos deveriam ter ido para a bancada, se estavam em representação do Estado deveriam ter mantido a postura. Não o fazendo agiram como se o futuro da nação se decidisse na bola que entra ou não.
Mesmo que Fado no séc. XXI, não seja o fado do “povo que lavas no rio” mas sim o fado do “povo” que se “lava” nos écrans das televisões.
A sociedade que temos é-nos mostrada na televisão. É uma sociedade onde os acusados procuram a absolvição em directo, onde pessoas com responsabilidade nos querem fazer acreditar naquilo em que eles próprios não acreditam.
A sociedade que queremos é uma sociedade de cidadãos informados e responsáveis. Não queremos dizer como José Régio no Cântico Negro:
“Não sei por onde vou
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí”.
Penso que podemos criar uma sociedade melhor se tivermos cidadãos que saibam o que querem, por onde vão e para onde querem ir.»
Isto é uma crónica datada, mas, actual em muitos aspectos:
1. Fátima é, novamente, presidente de câmara. Quando é o julgamento?
2. O futebol continua a distrair-nos do essencial. Hoje falámos mais de Simão que de Aníbal.
3. O caso «Casa Pia» está para durar...
Quantos anos passaram desde que escrevi as palavras acima?
Quem era o primeiro-ministro?
Quantos deputados foram deputar para Sevilha?
[o "blog" estava a ficar muito Liedson (levezinho)]

4 Comments:

Blogger psac74 said...

Caro Pedro,

Eu é que sou o demagogo (ehehe). Brincadeira!

Concordo com este post, acho interessante a forma como abordas o "estado da nação"...
É curioso verificar nas bancas que, em alguns diários não-desportivos de hoje, imperava o vermelho e o Aníbal (não que merecesse, pois não morro de amores por ele, mas sempre vai ser o Presidente de Portugal - reparaste, não disse o nosso Presidente?!) vinha em segundo plano.
Em relação aos estádios, posso-te afinçar de fonte fidedigna que, só por exemplo, o de Aveiro da um prejuízo anual de 250 milhões de contos! (ainda me custa fazer as contas em euros, desculpa!)

sexta-feira, março 10, 2006 12:34:00 da manhã  
Blogger psac74 said...

afinçar = afiançar
da = dá

Uma errata antes que me apresentes dicionários e prontuários!

sexta-feira, março 10, 2006 12:35:00 da manhã  
Blogger psac74 said...

Lá está! Mais uma para corrigir... Milhões?! "Porra", se ter um prejuízo de 250 mil contos é péssimo, então o que dizer de 250 milhões!
Como é óbvio, o prejuízo acumulado anualmente, apenas com a manutenção do Estádio Municipal de Aveiro, é de 250 MIL contos.

Ó Pedro, desculpa lá estes enganos, mas a culpa é do António: desde que apareceu lá uma Maria no Preca a dizer que era loira, de Portalegre e não sei o quê mais, deixei de ser o mesmo!

Mas deixa lá, assim ficas com mais comentários acumulados para parecerem muitos (ehehehe)!

PS - Vou passar a ter mais cuidado!

sexta-feira, março 10, 2006 1:36:00 da tarde  
Blogger António Almeida said...

foi por essas e por outras que eu hoje não tive aulas do mestrado!
deram-me cabo da cabeça das cachopas!

sexta-feira, março 10, 2006 11:14:00 da tarde  

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