terça-feira, dezembro 05, 2006

544 - por exemplo (parte 1.)

«Em Beslan, Ossétia do Norte (Rússia) morreram mais de seiscentas pessoas, mais de setecentos feridos, a maioria crianças. As notícias que nos chegaram sobre estes acontecimentos não causaram muito impacto. Não percebemos que aqueles 860 alunos saíram das suas casas felizes, vestidos com as melhores roupas, limpos e arranjados e voltaram (os que voltaram) com as roupas imundas, ensanguentadas, sem a perna direita, sem a mão esquerda...alguns sem os pais ou sem os irmãos, todos com recordações amargas. Não percebemos como consegue um estado tão pequeno e pobre (alguns números apontam para 70% de desemprego) planear o início das aulas num determinado dia e fá-lo de facto. Aqueles meninos podiam ser os nossos sobrinhos ou filhos, aqueles pais ou professores podíamos ser nós. Percebemos, no entanto, que um atentado do género, dificilmente ocorreria neste país. Como descobririam os terroristas o dia em que as aulas começam?
No dia três de Setembro quando o trágico sequestro de Beslan teve o seu desfecho encontrava-me na Festa do Avante, ao contrário do que seria de esperar não houve uma única intervenção que condenasse os actos terroristas.
Ir à Festa, nestes tempos é um exercício sociológico muito interessante. Os antigos países de Leste foram apagados, tal como Estaline ia retocando as fotografias à medida que os amigos passavam a adversários. Os “camaradas” passeiam-se embrulhados em “xailes palestinianos” parecendo acreditar que a solução para a Palestina é: “de bombista suicida em bombista suicida até à vitória final”, apesar de completarem a indumentária com calças Levi’s (imperialismo americano!) e com “ténis” Nike (trabalho infantil!).
Os restaurantes, outrora, geridos pelos Centros de Trabalho, foram entregues à iniciativa privada, uma espécie de capitalismo comunista. As convicções deram lugar a adaptações.
Houve, apesar de tudo, uma exposição pela qual valeu a pena ir à Festa, sobre o nadador Baptista Pereira (o Gineto, dos Esteiros de Soeiro Pereira Gomes) o miúdo de Alhandra que venceu a travessia da Mancha.
Exemplos com o de Baptista Pereira mostram-nos que com perseverança conseguimos vencer as adversidades.
Exemplos como o de Ossétia do Norte mostram-nos que apesar das dificuldades é possível apostar na educação e na cultura como alavancas para o desenvolvimento.»




6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Enquanto não se investir a sèrio na educação e formação escolar dos nossos jovens,andaremos sempre a reboque dos restantes paìses da UE.

Esteiros.
Dedicado,"aos filhos dos homens que nunca foram meninos"

Li este livro em Abrir de 1973,na escola Alunos marinheiros em Vila Franca de Xira.Obs. escusado serà de dizer que foi lido às escondidas..Estado novo a quanto obrigavas.

quarta-feira, dezembro 06, 2006 7:11:00 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

Tinha ideia que em 1973, após a primavera Marcelista, portanto, não havia grande perigo em ler um livro com os Esteiros.
Provavelmente essa «pressão» aconteceria devida ao facto de serem militares.

Quanto à questão da educação o investimento que refere terá de ser a nível das mentalidades. Colocar as pessoas certas nos lugares. Investir adequadamente.

quinta-feira, dezembro 07, 2006 12:58:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Mesmo após a Primavera Marcelista ,era um carga de trabalhos para quem fosse conotado com a esquerda ,ou com quem com ela se identeficasse,tanto que era normal dizer-se ,que um marinheiro cortado ao meio dava dois comunistas.

quinta-feira, dezembro 07, 2006 4:25:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

«Quanto à questão da educação o investimento que refere terá de ser a nível das mentalidades. Colocar as pessoas certas nos lugares. Investir adequadamente.»

Como é que reformas instituições, sem reformares mentalidades?

Como é que reformas mentalidades, sem reformares instituições?

sexta-feira, dezembro 08, 2006 12:31:00 da manhã  
Blogger pedro oliveira said...

Não me baralhes...
Tudo resulta de uma mudança de atitude (como diria o pessoal do hip-hop). Chamei-lhe mudança de mentalidade mas é o mesmo. Primeiro muda-se a atitude, é essa mudança que provoca a mudança das instituições que são conservadoras por natureza.

sexta-feira, dezembro 08, 2006 4:25:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Baralhar?... jogamos à sueca, é?...

Percebo o que queres dizer, mas talvez não seja assim tão linear. As atitudes formam-se/constroem-se/moldam-se/cristalizam-se nas instituições. faz-me lembrar a questão: »Quem educa os educadores?»
Quando "calhar" discutimos o assunto.

sexta-feira, dezembro 08, 2006 6:21:00 da tarde  

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