domingo, março 09, 2008

1229 - A telescola (quando a televisão era a preto-e-branco e os sonhos a cores)

Dantes a televisão era a preto-e-branco agora é a cores.
Dantes a escola fazia-nos sonhar.
Há quem, ainda, sonhe e tome medidas (trancrevo na íntegra uma carta electrónica enviada por um amigo):
Os professores do Departamento de Línguas e Literaturas, da Escola Secundária D. Maria II, Braga, na sua reunião ordinária de hoje, 5 de Março, abordaram, inevitavelmente, o modelo de avaliação que nos querem impor.
Após demorada, participada e viva discussão, os respectivos professores decidiram redigir e aprovar o documento que, de seguida, transcrevo na íntegra:.
Atendendo a que, sem fundamento válido, se fracturou a carreira docente em duas: professores titulares e não titulares; Atendendo a que essa fractura se operou com base num processo arbitrário, gerando injustiças inqualificáveis;
Atendendo a que os parâmetros desse concurso se circunscreveram, aleatória e arbitrariamente, aos últimos sete anos, deitando insanemente para o caixote do lixo carreiras e dedicações de vidas inteiras entregues à profissão;
Atendendo a que, por via de tão injusto concurso, não se pode admitir, sem ofensa para todos, que seguiram em frente só os melhores, e que ficaram para trás os que eram piores;
Atendendo a que esse concurso terá repercussões na aplicação do assim chamado modelo de avaliação, já que, em princípio, quem por essa via acedeu a titular será passível de ser nomeado coordenador e, logo, avaliador;
Atendendo a que, por essa via, pode muito bem acontecer que o avaliador seja menos qualificado que o avaliado; Atendendo a que o modelo de avaliação é tecnicamente medíocre;
Atendendo a que o modelo de avaliação é leviano nos prazos que impõe;
Atendendo a que o modelo de avaliação contém critérios subjectivos;
Atendendo a que há divergências jurídicas sérias relativas à legitimidade deste modelo;
Atendendo a que o Conselho Executivo e os Coordenadores de Departamento foram democraticamente eleitos com base nas funções então definidas para esses órgãos;
Atendendo a que este processo, a continuar, terá que ser desenvolvido pelos anunciados futuros Conselhos de Escola, Director escolhido por esse Conselho, e pelos Coordenadores nomeados;
Nós, professores do Departamento de Línguas, da Escola Secundária D. Maria II, não reconhecemos legitimidade democrática a nenhum dos órgãos da escola para darem continuidade a um processo que extravasa as funções para as quais foram eleitos;
Mais consideram que:
Por uma questão de dignidade e de solidariedade profissional, devem, esses órgãos, suspender, de imediato, toda e qualquer iniciativa relacionada com a avaliação;
Caso desejem e insistam na aplicação de tão arbitrário modelo, devem assumir a quebra do vínculo democrático e de confiança entre eles próprios e quem os elegeu, tirando daí as consequências moralmente exigidas.
Notas:
1 – Dos 22 professores presentes, 21 votaram favoravelmente e 1 votou ccontra
2 – Para além de darem conhecimento imediato deste documento aos órgãos, ainda democráticos, da escola, os professores decidiram dá-lo a conhecer a todos os colegas da escola
3 – Decidiram também dar ao documento a maior divulgação pública possível, e enviá-lo directamente para outras escolas e colegas de outras escolas
4 – Pede-se a todos os professores que nos ajudem na divulgação deste documento, e que o tomem como incentivo e apoio para outras tomadas de posição
5 – Este documento ficou, obviamente, registado em acta, para que a senhora ministra não continue a dizer que nas escolas está tudo calmo, e que só se protesta na rua
6 – A introdução e as notas são da minha exclusiva responsabilidade
7 – Tomo a liberdade de agradecer com prazer aos professores da Escola Secundária D. Maria II, Braga, e principalmente às mulheres, as mais aguerridas, pelas posições firmes que têm assumido, e por rejeitarem qualquer outro lugar que não seja a linha da frente da luta pela dignidade docente. É um orgulho estar entre vós.
António Mota
Escola Secundária D. Maria II, Braga
Penso que os professores (por assim dizer) não têm razão, mas lá está, não gosto do mundo a preto e branco.
Terão razão em algumas questões acessórias não a têm no essencial.
A culpada, no entanto, não é a ministra, não são os professores, os grandes culpados são os pa(i/í)s que se demitiram do papel de educar e acham que os professores têm, simultaneamente, de educar e instruir, obviamente, (quase) ninguém o assume a uns custaria muitos votos a outros uns sopapos.

5 Comments:

Blogger r said...

«Penso que os professores (por assim dizer) não têm razão, mas lá está, não gosto do mundo a preto e branco.
Terão razão em algumas questões acessórias não a têm no essencial.»

O meu caríssimo amigo, teve, então, oportunidade de ler na integra o Decreto Regulamentar nº2/2008?... podia explicitar as tais questões acessórias e diferenciá-las do essencial, por exemplo, que ainda não me foi possível digerir a totalidade de tal documento.
Obrigada

segunda-feira, março 10, 2008 12:03:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Todos têm culpa no cartório.

Ministra,
Professores,
Alunos e os respectivos encarregados de educação.
As novas tecnologias(Computadores)quando não aproveitados convenientemente,divorciam os alunos da aprendizagem,dos professores e dos próprios pais.

segunda-feira, março 10, 2008 6:55:00 da tarde  
Blogger r said...

O manuel Marques é que sabe das cousas, nem mais, todos Têm culpa no cartório. E a culpa, paga-se (pagou-se).

segunda-feira, março 10, 2008 9:49:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não é uma questão de ter, ou não ter razão.
É tudo uma questão de sacudir a àgua do capote.

terça-feira, março 11, 2008 5:23:00 da tarde  
Blogger r said...

...mas quem é que pretende sacudir a água do capote?
Ora essa, as pessoas, mostram ser racionais, quando procuram defender o emprego, certo?

Chateia-me é que gosto de preto... pronto, chateia-me!... andar vestida igual a tanta gente, perde «graça».

terça-feira, março 11, 2008 6:34:00 da tarde  

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