sábado, maio 24, 2008

1341 - valha-te gabriel, miguel


A equipa de reportagem do blog santamargarida sempre apostada em proporcionar aos seus leitores a melhor informação e reflexão sobre importantes temáticas, procurou afastar a rama e descobrir... afinal onde está o romancista?
Na república federativa brasileira não seria, certamente, que daí ele consegue acompanhar tudo.
Um bom repórter deve desconfiar de si próprio.
Foi o que fiz.
Voilá.
Olha ele aí, cara, na Rua das Pelotas, São Paulo.
Por esta altura alguns dos leitores estarão desconfiados, então o gajo há dois anos soube que o Porto foi campeão em Alvalade e agora está incomunicável em São Paulo?
Para não acharem que é má vontade minha vou deixá-los com um extracto do último (até agora) livro do romancista:
Eu, Diogo Ribera Flores, filho do campo e do sequeiro, herdeiro de sobreiros, azinheiras e oliveiras, alentejano por berço e condenação perpétua, deixei mulher e filhos, deixei mãe e irmão, deixei terra e Pátria, deixei esse ar espesso e opressivo de um Portugal amordaçado, para flutuar neste balão gigante sobre o mar e sobre a vida, esperando que no fim da viagem haja um Novo Mundo à minha espera. Não podendo vir de caravela, vim de Zeppelin, e, fosse eu dado aos relatos, como Pêro Vaz de Caminha, também escreveria à minha Rainha - porque Rei não tenho - o diário desta viagem e das minhas descobertas. Ah, mas eu não tenho essa consistência e perseverança dos descobridores! Eu sou leviano e ligeiro, sou mais dado às sensações do que às realizações, mais depressa me sirvo a mim do que à Pátria. Graças a Deus, não nasci em 1500: nasci tarde de mais para o desconhecido, cedo de mais para a lucidez. Não sei o que procuro, mas sei do que fujo. Não sei o que encontro, mas sei que vou, que flutuo - como este grande balão, devagar e em frente, suspenso sobre tudo o que são as certezas, a terra firme onde os outros são felizes e realizados e eu não. Chego à janela entreaberta do Hindenburg e olho para o mar, lá em baixo: aspiro a sua humidade e o seu sal a plenos pulmões, peixes-voadores sobrevoam a crista das ondas vadias, golfinhos desenham a sua sombra logo abaixo da linha de água, em vão procuro o perfume a clorofila que anunciará a costa do Brasil, vejo o retrato de Amparo, e do Manuel e da Assunção, reflectido na superfície do mar e não sei que lhes diga. Não tenho razão alguma explicável para estar aqui. Um capricho, disseste tu. Uma obsessão, um egoísmo, uma infantilidade, sentenciou o Pedro. É tudo verdade, que posso eu dizer? E, todavia, flutuo. Estou entre mar e terra, entre a Europa, cansada e demente, e o Novo Mundo, onde tudo só pode ser diferente. Flutuo, estou feliz, bebi de mais ao jantar, o luar de prata dançando sobre a água aqui debaixo faz-me sentir eufórico e alheio, aproveito este intervalo, estes dias em que não sou de lado algum, em que não tenho pé em terra nem no mar, para pensar no concreto da vida. E, quanto mais penso, mais me apetece que esta viagem nunca mais acabe."
Destacam-se as palavras «me sirvo a mim» vou conjugar o verbo completo:
- me sirvo a mim
- me sirvo a ti
- me sirvo a ele/ela
- me sirvo a nós
- me sirvo a vós
- me sirvo a eles/elas
... sentenciou o Pedro (eu, portanto).


8 Comments:

Blogger pedro oliveira said...

Extracto retirado deste «site»:

http://www.companhiadasletras.com.br/

os realces são da autoria deste vosso humilde servo

sábado, maio 24, 2008 2:24:00 da tarde  
Blogger r said...

Isto é um «post» sobre o quê?
Gastei imensa energia sináptica a estudar o mundo do desporto português... sobre a arte da servidão?

sábado, maio 24, 2008 3:56:00 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

Como, provavelmente, a maioria dos meus leitores não tiveram oportunidade de estudar Filosofia em Universidades Privadas e como isto é um «blog» dum aldeão.
Para percebermos o que está em discussão diria que energia sináptica é o esforço que efectuamos para «ajuntarmos» as ideias, para estabelecermos ligações entre as realidades que nos são próximas e o conhecimento que pretendemos adquirir.
Há cerca de dois mil anos existiu um gajo de barbas, cabelo comprido, túnica e sandálias que para a maralha queo o acompanhava não desperdiçar energia sináptica, falava-lhes por parábolas.
Este «post» é sobre comunicação.
«Valha-te Gabriel» leia-se o arcanjo Gabriel (o gajo da Anunciação) que foi consagrado por Pio XI em 1951, padroeiro das telecomunicações.
Miguel, o romancista.
Miguel para além de romancista é também cronista (n' A Bola as terças, n' O Expresso aos sábados) a derrota/humilhação na final da Taça de Portugal foi-lhe tão dolorosa que preferiu furtar-se à realidade.
Curiosamente o extracto (que classificaria auto-biográfico) que seleccionei diz muito sobre o modo como Miguel encara a realidade.
Isto é um «post» sobre quê, então?
Sobre o carácter.

sábado, maio 24, 2008 4:22:00 da tarde  
Blogger Unknown said...

Coincidências camarada...

sábado, maio 24, 2008 7:03:00 da tarde  
Blogger r said...

Dr. Oliveira,
minh'alma se espanta com tão generosas explicações de aldeão.
Diria que a descrição que faz do Nazareno está para o comum dos homens ao tempo histórico, como a «poesia» de Heidegger para a História de Filosofia.
Cabelos compridos, lindão, esbelto, barbas e tal... muita imagem cinematográfica, tipo os «sulcos do ser», a «casa do ser», «caminhos na floresta», o «Dasein» heideggeriano* e por aí, tão poético... tirando isto, o sonho como contexto elucidativo parece-me bem. Não fosse, o anjinho, o carpinteiro descrente tinha dado conta das redes sinápticas, tipo: como é qu'ela engravidou, Deus meu (dele)?


*descontextualizei um bocadinho, pronto, desculpai.

sábado, maio 24, 2008 7:21:00 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

«como é qu'ela engravidou, Deus meu (dele)?»

Ora aqui está uma pergunta de resposta fácil:
- Engravidou por obra e graça do Espírito Santo.

Mais difícil seria responder à questão:
- O que é o Espírito Santo?

Digamos que os humanos O apreciam, digamos que através do Espírito Santo o ser humano atinge a tal plenitude.

sábado, maio 24, 2008 7:31:00 da tarde  
Blogger r said...

«- O que é o Espírito Santo?»

Caríssimo, ora essa, então não sabe que «é uma pomba estúpida».

Sobre a plenitude conto-lhe... depois.

sábado, maio 24, 2008 7:39:00 da tarde  
Blogger Unknown said...

Mas que rolhar de pombinhos que para aqui vai!

sábado, maio 24, 2008 9:43:00 da tarde  

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