terça-feira, junho 17, 2008

1397 - hoje lembrei o pai do meu pai

Hora de almoço, a primeira hora da tarde, na televisão mais uma vez, um incumpridor da lei procurava justificar o injustificável.
Lembro-me (cito de memória) do ouvir dizer:
- A mãe biológica não tinha dinheiro para lhe comprar leite, comida, não a queria entregar numa instituição, nós sabemos como funcionam essas instituições, preferiu entregar a menina a um casal que a amasse.
Lembrei o meu avô, pois ele encantou-se, quando em Mafra, a república se entretinha a ensinar-me a marchar, a mimar espingardas automáticas, a engraxar as botas e a esvaziar o cérebro.
Lembrei o meu avô porque me lembrei da dificuldade que tive para poder assistir à sua (dele) última viagem.
Na altura (há cerca de vinte anos) não era fácil abandonar o quartel.
Hoje vejo o sargento que esteve preso por amar, na televisão a propósito e a despropósito.
Para que servem os responsáveis pela nossa segurança, para choramingarem na televisão em horário nobre?
Baltazar não é televisionado, tem de trabalhar e a vida de quem a ganha com sangue e suor não é, não está fácil.
Lembrei o pai do meu pai e de mais três marmanjos e duas marmanjas, meia dúzia de miúdos descalços.
Lembrei-o e à minha avó, ao leite que não tinham, às sopas de cevada com pão duro e açucar amarelo, o bom que era saboreá-las, sentir-me parte de uma família alargada, pobre mas com sorrisos.
Um casal que a amasse, dizia o sargento Gomes, Esmeralda não precisa de um casal que a amasse, seis anos a ser amassada são mais que suficientes, a menina precisa de um pai e de uma família que a ame, que a cuide, que a ajude a esquecer meia dúzia de anos de pesadelo.

4 Comments:

Blogger Unknown said...

Os gestos de amor são humildes.

quarta-feira, junho 18, 2008 6:12:00 da tarde  
Blogger r said...

Caríssimo Pedro, devia desligar a televisão, durante as refeições.
Pense nisso.

quarta-feira, junho 18, 2008 8:02:00 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

Tentei mas o dono do restaurante esconde o comando.
O comando da televisão do restaurante não é «meo», é dele e eu respeito a propriedede privada.

quarta-feira, junho 18, 2008 9:18:00 da tarde  
Blogger r said...

Pedro,
faça as refeições em casa;
frequente restaurantes sem televisão;
tire o lenço do bolso, desaperte a gravata, coloque o lenço em cima duma cadeira, suba e desligue a televisão, depois de pedir ao dono do restaurante, . guarde o lenço para lavar e arrume a cadeira;
leve o almoço na lancheira;
vá à cantina;
prescinda do almoço.
etc

continue a respeitar a propriedade privada, contudo.

quarta-feira, junho 18, 2008 9:32:00 da tarde  

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