segunda-feira, outubro 09, 2006

496 - indiferença



«Esta manhã» foi ontem.
A fábrica foi esta.
A factura 22265 foi emitida em 8 de Junho de 1956, a fábrica Vieira da Cruz exportava madeira para Casablanca, Marrocos.
O recém inaugurado Campo de Instrução Militar de Santa Margarida recebia cem oficiais que frequentaram um inovador estágio de guerra atómica.
Aqui perto construía-se a Barragem de Castelo do Bode... cinquenta anos... pensava nisso ontem enquanto limpava a lama daqueles papéis, sorria ao ler a nota escrita a lápis (talvez consigam ler se «clicarem» na factura):
Feito novo exemplar para a gerência sem indicação das taras enviadas a mais. 12/6/56
Sorria, com pouca vontade de sorrir, pensava no assessor, na secretária do assessor, no consultor da secretária do assessor, na secretária da secretária do consultor do assessor, enfim nas centenas ou milhares de funcionários duma burocracia que não funciona ... pensava tal como o saudoso Artur Jorge (o treinador poeta): vamos fazer coisas bonitas, vamos fazer coisas boas.
Para fazermos coisas bonitas e boas é necessário sair dos gabinetes e ir à procura da História onde ela está, sujar as mãos, enlamear os pés, tornarmo-nos úteis.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Sempre que vinham as fèrias grandes,là ia eu todos os dias ,rumo à Praia do Ribatejo onde passava as minhas fèrias trabalhando nessa fàbrica.Saudades atè do cheiro da serradura.

Manuel Marques

Terça-feira, Outubro 10, 2006 5:05:20 PM

terça-feira, outubro 10, 2006 7:44:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A minha primeira (fits)(Ginga) bicicleta foi comprada com o dinheirinho que ganhei nessa serração.
Curiosidade.Eram poucos os serradores ,que tivesem todos os dedos das mãos.Depois de almoço ,trabalhavam todos embalados pelo trotil (Vinho)Almoçavam à pressa e iam direitinhos a uma tasca, que havia em frente à estação da cp.Outros tempos.

Manuel Marques

Terça-feira, Outubro 10, 2006 6:23:26 PM

terça-feira, outubro 10, 2006 7:45:00 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

Amigo Marques, espero que não fique aborrecido por lhe ter "ordenado" os comentários.
Gostei muito que tivesse partilhado comigo (e com os meus envergonhados leitores, andam pouco "comentativos")a experiência do trabalhador na serração, penso que na sua altura se dedicavam, principalmente, a transformar pinho em tábuas.
O meu avô (o tal que morreu ao cair da ponte que se adivinha na fotografia) era carpinteiro. Eu como gajo do campo, também, adoro o cheiro da madeira e da resina.
Quanto às considerações que faz sobre o «trotil» é verdade (também trabalhei em fábricas e em obras) bebia-se bem (no sentido de muito) nesses locais, mas, os acidentes de trabalho que presenciei foram sempre por falta de higiene e segurança no trabalho. Imagino as condições de trabalho de uma serração nos anos sessenta, sem luvas, nem mariquices dessas que um homem é um homem, mãos nuas contra serras mecânicas, é normal que de vez em quando os dentes das serras mordessem.

terça-feira, outubro 10, 2006 7:58:00 da tarde  
Anonymous BARRAGON said...

eu nasci na praia do ribatejo,os operarios da manuel vieira da cruz e filhos e da thomas da cruz e filhos nao bebiam so uns canecos na tenda frente a estação da praia tambem la compravam a sua mercearia para alimentar as suas familias nos anos 60 trabalhavam nas duas serrações umas centenas de trabalhadores,um tio meu o manuel cardinho era fogueiro na mvcfilhos,a minha irmã maria eugenia cardinho barragon era la escrituraria na mvc filhos,conheci la muitos operarios a grande maioria praienses,mas tambem vinham de constancia,montalvo,santa margarida,rodas,linhaceira,tancos,madeiras,limeiras,etc.aquelas casas grandes destas familias vieira da cruz e cruz,estavam todas habitadas,havia cantina para os operarios,nas duas fabricas,havia bombeiros na mvc filhos,havia lagares de azeite e adegas de vinho,eram casas abastadas,hoje esta tudo ao abandono,e so uma e que e habitada,o senhor manuel marques e natural da praia e de que familia.

quarta-feira, fevereiro 17, 2016 8:53:00 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

Caro Barragon,

Manuel Marques (também ele um português a viver fora de Portugal) fala de uma experiência que teve, ainda, muito jovem.
É natural que na altura o impressionassem mais os homens que bebiam muito e que não tinham dedos nas mãos que os outros, os que bebiam água e iam à Venda comprar arroz e açucar.

Cumprimentos, volte sempre

domingo, fevereiro 21, 2016 10:32:00 da manhã  

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