quarta-feira, julho 04, 2007

837 - unhada na alma

Procurava as letras no teclado do computador e pensava no menino que fui, no homem que não quero ser. Gostaria de sorrir, gostaria de acreditar... gostaria
Gostaria que as lutas fossem leais, como nesta ilustração de Maria Keill.
Gostaria de ser para sempre Peter, o que não envelhece, eternamente a fazer a guerra, sempre a ansiar a paz.
No meu peito (escondida por um matagal de pêlos negros [e um sacana dum pêlo branco, descoberto há pouco]) vive uma cicatriz provocada por um gajo cujo primeiro nome tinha (tem), apenas, três letras.
Lembro-me como se fosse hoje (foi há mais de vinte e cinco anos) um jogo de futebol, troncos nus e suados, uma discussão, qualquer... murros, pontapés e uma unhada no peito, lembro-me de olhar o peito com um sulco onde faltava pele e carne, lembro-me de o olhar, desculpabilizante, como que a dizer:
- Que tipo de homem «ganha» uma luta à unhada...
Lembro...
Lembro-me de sempre ter usado as mãos sem unhas (nunca violei*)
As maiores unhas que usei estão na ilustração.
Lembrei-me de tudo isto a propósito de meninos que não sabem ser meninos, a propósito de protecção de menores que não protege, a propósito de professoras de cidadania que sabem ser cidadãs, a propósito de crimes ocorridos em Constância que o Ministério Público investigará (apesar da tentativa abafativa do poder).
* quem tem unhas é que toca viola, como o amigo Rui, por exemplo
não é o fim, nem o princípio do fim, é o fim do princípio