sexta-feira, fevereiro 01, 2008

1185 - o pintor morreu, foi assassinado

Hoje falar-se-á muito dum professor e dum pintor.
Assassinar um artista é, de algum modo, matar, simbolicamente, a cultura de Portugal.
O Sr. Dr. José Afonso ilustrou dum modo magnífico essa morte simbólica no poema que podemos ler ali em cima.
Detenhamo-nos nalguns pontos:
Uma gota rubra sobre a calçada cai e um rio de sangue dum peito aberto sai.
Uma gota rubra, não caiu na calçada sangue azul, jorrou o sangue dum homem, sangue igual ao que nos faz bater o coração, um rio de sangue dum peito aberto sai.
Teu sangue pintor reclama outra morte igual.
A morte do Rei artista (pintor) e do filho primogénito do Rei (outra morte igual).
Eu, provavelmente, muitos leitores, entendia este poema como um poema para Catarina mas nos campos do Alentejo não há calçadas e a enigmática referência ao Pintor (assim em maiúsculas) sempre me confundira.
A ceifeira de Portugal (reparem não refere a ceifeira da república portuguesa) será uma alegoria à agricultura, o som da bigorna uma alegoria à indústria.
Como um clarim do céu vão dizendo em toda a parte o pintor morreu
Tal como Zeca entre os assassinos e a cultura prefiro a cultura.

6 Comments:

Blogger r said...

Caro Pedro,
o poeta escreve, escrevendo-se.Quando o poeta publica o seu escrito, expõe-se/mostra-se/ comunica-se com maior ou menor intimidade... a aprendizagem que fazemos, a partir dessa exposição (do homem que habita o poeta)depende de nós como seres individuais, inseridos numa determinada cultura. Já lhe tinha dito tudo isto, queira desculpar a falta de originalidade matinal.
Desconstruir a metáfora do poema é apropriar-se dele... gostei desta tradução que fez do poema de José Afonso. De certa forma, vai ao encontro de algo que me desagrada: o aproveitamento político, por exemplo, da criação artistica. O seu texto, parece simples, mas suscita-me esse questionamento: o que é, afinal, a arte (aqui, falou de poesia, mas podemos alargar o conceito...)? Obviamente que não há neutralidade na produção cultural, mais que não seja por respeitar a homens e mulheres enraizados numa circunstância individual, social...e tal e tal..., mas terá uma função? se sim, qual? Etc e tal...

Então, um excelente dia para si e viva o Rei.
Sim, o sangue que nos corre nas veias não é azul, ainda que goste muito do azul.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008 9:44:00 da manhã  
Blogger r said...

«ceifeira de Portugal»
ceifeira remete para cereais, alimento, o alimento é vital, cuida, protege, dá vida...pode ser mais profundo (e abrangente) que uma alegoria à agricultura. Pode ter sído o «aproveitamento» duma relalidade de um país, o ser agrícola, para significar aquele que o comanda... as leituras, são sempre multiplas... que pena eu ter de ir marcar o ponto, algo, de certa forma, que mata (uma espécie de suicidio) em mim a cultura.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008 9:51:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Postes de *****.Lamemto mas o tempo é escasso,estou a ajudar o meu filho a mudar de casa.Passe bem.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008 5:43:00 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

Postes de ***** morte?
«Posts» sobre morte sim, hoje o filho de Mário Soares (a tal que perdeu umas eleições para Santana Lopes, outras para o «Careca do Benfica» e prepara-se agora [dizem] para concorrer a presidente da câmara de Santarém)esse gajo dizia hoje defende no Diário de Notícias que, também, deveriam ser homenageados os srs. Buiça e Costa, coitadinhos.
Boas mudanças, camarada.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008 6:00:00 da tarde  
Blogger r said...

«e prepara-se agora [dizem] para concorrer a presidente da câmara de Santarém)»

Assim, nem sei porquê, ocorre-me que o cavalo, como elemento fundamental da identidade ribatejana, entrará em crise.

Até de repente.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008 11:27:00 da tarde  
Blogger drcursor said...

um minimo de investigacao levaria a encontrar o significado da letra...nao se refere a catarina, refere-se a josé dias coelho, funcionario do pcp e lutador antifascista.

Esta semana morreu outro grande pintor, Rogerio Ribeiro...mais um pintor morreu..

«Na noite de 19 de Dezembro de 1961, José Dias Coelho, funcionário clandestino do PCP, seguia pela Rua dos Lusíadas. Cinco agentes da PIDE saltaram de um automóvel, perseguiram-no, cercaram-no e dispararam dois tiros. Um tiro à queima-roupa, em pleno peito, deitou-o por terra; o outro foi disparado com ele já no chão. Os assassinos meteram-no no carro e partiram a toda a velocidade. Só duas horas depois, quando estava a expirar, o entregaram no Hospital da CUF.»

«Artista plástico de mérito reconhecido, José Dias Coelho aderiu ao PCP com pouco mais de vinte anos e algum tempo depois passou a funcionário clandestino. Entre muitas tarefas que desempenhou, nomeadamente a de responsável pelo Sector Intelectual de Lisboa do PCP, da actividade de José Dias Coelho enquanto funcionário do Partido, sobressai o importante trabalho, realizado com Margarida Tengarrinha, relacionado com a falsificação de documentos de identidade necessários aos quadros clandestinos do Partido.»

«De todas as sementes deitadas à terra, é o sangue derramado pelos mártires que faz levantar as mais copiosas searas»: eis a legenda que José Dias Coelho escreveu na sua última gravura, criada um mês antes de ser assassinado, e representando o assassínio do operário Cândido Martins (Capilé) à frente de uma manifestação popular.»

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quarta-feira, março 12, 2008 11:19:00 da manhã  

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