sábado, julho 16, 2011

0112/2011 - camões não falava a língua dos bretões

Máximo Ferreira, presidente da Câmara de Constância e astrónomo, acrescentou que Camões "conhecia os princípios fundamentais da astronomia da sua época (...)" in ABarca n.293, 2011.07.07 p.8
(...) the idea of a heliocentric system (centred on the Sun) was suggested by certain early Greek astronomers, notably by Aristarchos in about 260 BC (...)
Nicolas Copernicus finaly published his theory in 1543 that it was seriously considered in Astronomy p. 10
podia elaborar à volta deste tema mas não o vou fazer.
cada um, que pense.
cerca de 1840 anos antes da morte de camões, já havia quem aventasse a hipótese de ser a terra a «girar» à volta do sol.
cerca de 430 anos após a morte de camões, cientistas como o actual presidente da câmara de constância ou o actual ministro da educação, acham que camões tinha razão, acreditam que é o sol que «gira» à volta da terra.

6 Comments:

Blogger MM said...

Pedro,
Talvez tivesse querido dizer que Camões conhecia o que na época era ventilado (pelo senso comum) como princípios fundamentais. É fácil (ou talvez não) de ve-lo, basta procurar se no tempo em que o poeta viveu o heliocentrismo era já "aceite" como (possibilidade de) verdade. Desconheço ...
1525, 1524, ou ano em que nasceu (caso seja outro) é anterior a 1543. No ano da publicação Camões teria os seus 18 anos. Após a publicação, tenho ideia (mais ou menos assente em nada, porque mera noção) de que o heliocentrismo somente mais tarde no tempo (de Copérnico) substitui finalmente o geocentrismo. Mas não sei. Tenho essa ideia mas como disse pouco mais é do que ignorância, uma vez que nem sei de onde vem.

Talvez Camões conhecesse os princípios fundamentais da astronomia do seu tempo e esses princípios não fossem os correctos. Mas tal como Camões, todos. Ou quase todos. Talvez fosse esse o significado do que o "presidente" quis dizer.

Pedro, já agora, onde nasceu Camões? Estive para perguntar isso há uns dias mas não o fiz com receio que fosse uma pergunta "estúpida". Lisboa, ou não? Caso não, onde? E porque nunca Constância?, estando ela inclusivamente próxima de Lisboa?

sábado, julho 16, 2011 1:19:00 da manhã  
Blogger pedro oliveira said...

Caro MM,

Vou começar pelo fim, a verdade é que se sabe muito pouco sobre a vida de Camões. Poderá ter nascido em Lisboa ou em Coimbra, há autores que apontam outros locais, cerca de 1524.
Porque não em Constância?
Porque Constância só tem existência efectiva a partir de 1836; antes existia Punhete, uma localidade que pouco teria a ver com a Constância actual, tanto no espaço dos vivos como dos mortos.
A igreja que hoje conhecemos, que domina e organiza espacialmente, toda a colina pela qual a vila se espreguiça, não existia no séc. XVI, o cemitério actual não existia, os mortos eram enterrados na actual praça, junto ao pelourinho, o próprio termo (território) da vila de Punhete era diferente do da Constância actual.
Quanto à questão dos conhecimentos astrológicos ou astronómicos de Camões tens razão, o heliocentrismo não era aceite por todos na altura mas era discutido.
Copérnico desenvolveria a sua teoria durante várias décadas sem ser alvo de qualquer perseguição, curiosamente a sua obra: «De revolutionibus orbium coelestium» seria publicada em 1543, ano em que Copérnico morreu.
A questão que importa referir é que Camões teria tido contacto com esta obra mas não lhe deu a devida importância, não «acreditou» nela, ora nós não podemos dizer que alguém é um fantástico astrónomo e que dominava todo o conhecimento astronómico da época quando é evidente que não compreendeu nem aceitou uma teoria (a de Copérnico) sobre os movimentos dos corpos celestes que estava correctíssima.
Quanto a Aristarco de Samos é provável que Camões, também, tivesse tido contacto com a sua teoria heliocentrista, que inclusivé é referida por Arquimedes, assim ainda resulta mais incompreensível que o «excelente astrónomo Camões» não tenha dado crédito a Copérnico.
Para terminar, uma curiosidade que tem a ver com o título do «post» a primeira tradução d' Os Lusíadas para inglês rezava assim: The Lusiad, or portugals historicall poem, written in the portingall [sic] language by Luis de Camoens and now newly put into english by Richard Fanshaw... data de 1655.

sábado, julho 16, 2011 9:02:00 da manhã  
Blogger MM said...

Pedro, entendo. Perguntei porque ganhei curiosidade assim que li as 4 últimas mensagens, ou a primeira delas, há uns dias atrás. Mas tendo o poeta vivido numa terra que hoje dá pelo nome de Constância é talvez normal que se dê relevo e se diga "Camões viveu aqui". Não sei se viveu ou não, ignorante me confesso sobre Camões, sua maior obra, e sua vida. Falo no caso de ser universalmente aceite que Camões viveu de facto "aí", na hoje Constância, ou na(s) antiga(s) ___ ou ___, no caso do território em discussão ser o mesmo independentemente da evolução histórica dos nomes e lugares.
Não é líquido, nem é seguramente fácil. Existem casos - como exemplo - de terras que mudam de lugar. Uma mesma terra há 500 anos situada no território X e que situa-se hoje a 70 ou 80 km's do território X. Ora "se determinado sujeito nasceu 'aqui' há 500 anos atrás", fica-se naturalmente sem saber o que será 'aqui'. Conflitos evidentes, e quase nunca bem explicados. Mas nem é preciso ir tão longe. Nações e suas colónias: um sujeito nascido a 2000 km's de Portugal é Português. Como? No seu espaço e tempo o sítio onde nasceu era parte de Portugal, ou sua colónia. Parece-me evidente que não existe aqui propriedade. Porém, existe quem diga e repita muito, "se na altura era Portugal, pois então coiso e tal". Óbvio que não. Mas mesmo nestes casos, não é completamente claro, ou oferece-se barato que não seja.
Sobre Camões, desconhecia que seria um fanático por astronomia e dominava os conhecimentos astronómicos. Lá está, quando não se sabe, não se sabe: Camões - Poeta, e nada mais. Pelos vistos não. Mas não é surpreendente. Aquilo que separa o sobredotado do génio é que o génio domina muitos assuntos diferentes e sacrifica-se ou entrega-se com devoção a esses (muito diferentes) assuntos. Mais uma vez, falo em abstracto: não faço ideia se Camões o foi ou não mas é possível (ou provável) que sim, uma vez que a sua vida não terá sido passada unicamente a escrever "a" epopeia, ou poemas, versos, ou outra coisa qualquer. Não conheço muito sobre o poeta mas na escola, mais não seja, aprende-se o suficiente para se ficar com a noção de que há muito mais para além disso.
Sinceramente não saberia opinar sobre se em 1540, 50, 60 ou 70, Camões teria "obrigação" de abraçar o heliocentrismo. Talvez tivesse; se partirmos do princípio que "conhecia todos os princípios astronómicos" e era um "fantástico astrónomo". Mas enfim tal relacionar-se-á em parte grande com aquela que terá sido a sua vida, ou época (e regressando às noções que pouco ou nada valem): foi soldado, morreu na pobreza, esteve exilado, e portanto não sei até que ponto devemos julgá-lo severamente sobre os conhecimentos que possuia ou não sobre determinado assunto. Já o que gente informada diz HOJE sobre ele, essas sim, têm obrigação de não errar e versar convenientemente sobre aquilo que pretendem ou não dizer: seguindo ontem um dos links na mensagem sorri muito com o comentário que fizeste noutra parte. Pedro, o ser humano é assim, faz parte das suas defeituosas características (e são milhentas e todas muito sérias ou graves): a tentação de "fingir" que se "domina" um assunto é terrível e existirá sempre no ser humano, em menor ou maior escala. O que é que leva alguém em visita a uma terra, olhar para um candeeiro e dizer que tal coisa está mal construída e vai contra os princípios astronónimos de tal coisa e que nem Camões que aqui viveu ou nasceu cometeria tão básicos erros? Vaidade, ou mero ridículo ... talvez.

sábado, julho 16, 2011 3:52:00 da tarde  
Blogger MM said...

Pedro, já agora, é por isso que sou adepto incondicional do amadorismo. Amadorismo no seu sentido literal. Os amadores, porque amam muito, erram muito. Porém, não se limitam a errar. Duvidam, procuram, esforçam-se, questionam, mexem-se. E mesmo que a sua procura ou viagem seja confusa ela é muitas vezes infinitamente mais rica comparativamente às dos avançados. E dessa riqueza, nasce luz. Luzes que outros não possuem, porque não são amadores.

Pedro só para finalizar, sobre a curiosidade do título da epopeia traduzida - no século XVII (desconhecia por inteiro) - para a Língua de Shakespeare. Primeira vez na vida que li tal termo, "Portingall". Portingale sim, Portingales também, Portingall nunca, mas não custa deduzir que os Portingales fossem de Portingall. Curioso a tradução ser tão antiga Pedro. Não é frequente (julgo). Seria engraçado - como exemplo - ver-se a data da primeira tradução de qualquer obra de Shakespeare para a Língua Portuguesa. Creio que não encontraríamos nenhuma tão antiga quanto essa, pese embora não esteja minimamente certo que assim seja. Tal é relevante, se considerarmos que Camões e Shakespeare viveram ao mesmo tempo e nasceram separados por meros 40 anos.

sábado, julho 16, 2011 4:24:00 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

«Pedro, já agora, é por isso que sou adepto incondicional do amadorismo. Amadorismo no seu sentido literal. Os amadores, porque amam muito, erram muito. Porém, não se limitam a errar. Duvidam, procuram, esforçam-se, questionam, mexem-se. E mesmo que a sua procura ou viagem seja confusa ela é muitas vezes infinitamente mais rica comparativamente às dos avançados. E dessa riqueza, nasce luz. Luzes que outros não possuem, porque não são amadores.»

MM, concordo com o que dizes, principalmente, com aquilo que reproduzo ali em cima.
Cada um de nós tem vidas ocupadas e acho que a blogosfera serve para falar de outros temas que «amamos» [como dizes e bem] para além da nossa ocupada vida profissional.
Claro que quando se vivwe num meio pequeno as opiniões são sempre entendidas como estocadas no «saber dos sabedores de tudo» (faço-me entender não faço?).
Nem tudo é mau... de seguida vou «postar» algo bom e belo.

domingo, julho 17, 2011 10:41:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Se este comentário for publicado (o que dúvido), gostaria de deixar expressa a minha admiração pelo título deste Post e pelos comentários a ele associados, por três razões distintas: Em 1º lugar pela carga politica a ele associada, onde se volta pega nas migalhas para dizer mal do pão (facto recorrente neste blog), gostaria de ver igualmente neste contexto criticas a todas as figuras com responsabilidades neste país, pelas gaffes cometidas umas vezes por distração e outras tantas por ignorância. Neste caso tudo serve para deitar abaixo (rebaixar intelectualmente) alguém que tem que ser avaliado pelo trabalho desenvolvido e menos pelas palavras que profere fora do âmbito politico. Depois, fiquei agradavelmente surpreendido pela licção de história que tive o prazer de apreciar pela pena do Sr. Pedro Oliveira, aliás pessoa que considero muito inteligente e perspicaz (pena continuar a tocar sempre as mesmas teclas). Para finalizar fazer uma apreciação às palavras do Sr. MM: Confesso que não percebi onde queria chegar e se o seu intuito era só cultivar-se na sapiência (reconhecida, sublinhe-se) do prezado moderador, ou por outro lado acrecentar algo para complementar a exposição, coisa que não consegiu, desculpe-me a frontalidade.
Podíamos fazer muito pela cultura ´´ da nossa terra `` se labutassemos no verdadeiro sentido da palavra deixando esses «pormenores» de lado. Eu não sou obrigado a gostar de ninguém em particular, mas isso não me coloca na contingência de fazer-lhe marcação cerrada constantemente pegando em todas as linhas soltas só para o debicar politicamente. Atenção que não estou a fazer a apologia de ninguém, pois já fiz saber em diversas ocasiões que aprovo o alinhamento politico do executivo, mas não aprecio a individualidade em particular.
O Político Residente

segunda-feira, julho 18, 2011 11:19:00 da tarde  

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