sexta-feira, junho 29, 2007

824 - morre muito, a malta desse país

4 Comments:

Blogger pedro oliveira said...

qual país? (perguntam)
O Estrangeiro, obviamente (julgo que se chama Reino do Estrangeiro ou será república?)

sexta-feira, junho 29, 2007 5:54:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Estou à procura
de um homem que não conheço
que nunca foi tão eu mesmo
quando desde comecei a procurà-lo.
Teria ele meus olhos,minhas mãos
e todos esses pensamentos semelhntes
Aos destroços deste tempo?
Estação de mil naufràgios
o mar deixa de ser mar,
para tomar àgua gelada dos túmulos.
Mas,mais longe,,quem sabe mais longe?
Uma menina canta a contragosto
enquanto a noite reina sobre as àrvores,
pastora em meio a seus carneiros.
Venham arrebatar do grão de sal a sede
que nenhuma bebida poderà mitigar.
Com as pedras,um mundo de devora
para ser,como eu,de parte alguma.

(Edmond Jabès)

sexta-feira, junho 29, 2007 9:26:00 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

«ser de parte alguma»

ser parte do todo, ser.

sábado, junho 30, 2007 6:08:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

este post não devia ser, também, um pensamento profundo?

o estrangeiro, ser, morte, todo...lembrei-me de Camus e apetece-me deixar aqui um pedaço da Introdução por Sartre em O Estrangeiro de Albert Camus. apetece-me. se não quiser, já sabe: delete.

« (...) É que o silêncio, como diz Heidegger, é o modo autêntico da palavra. Só se cala aquele que pode falar. Camus fala muito, em O Mito de Sísifo, chega a tagarelar. E, contudo, confia-nos o seu amor do silêncio. Cita a frase de Kierkgaard:
«O mais seguro dos mutismos não é calarmo-nos, mas falarmos, e ele próprio acrescenta que «um homem é mais um homem pelas coisas que cala do que pelas coisas que diz.» Por isso, em O Estrangeiro, tomou o caminho de se calar. Mas como calar-se com palavras? Como traduzir, com conceitos, a sucessão impensável e desordenada dos presentes? Esta aposta implica o recurso a uma nova técnica.
Que técnica é essa? Tinham-me dito : «é Kafka escrito por Hemimgway.» Confesso que não encontrei Kafka. As vistas de Camus são todas elas terrestres. Kafka é o romancista da transcendência impossível: para ele, o universo está carregado de sinais que não compreendemos; há um avesso do cenário. Para Camus o drama humano é, ao invés, a ausência de toda a transcendência: «Não sei se este mundo tem um sentido que me ultrapassa. Mas sei que não conheço esse sentido e que, de momento, me é impossível conhecê-lo. Que significa para mim uma significação fora da minha confição? Só posso compreender em termos humanos. O que eu toco, o que me resiste, eis o que compreendo.» Para ele não se trata, pois, de encontrar arranjos de palavras que dêem a supor uma ordem inumana e indecifrável. O inumano é simplesmente a desordem, o mecânico. Nada de vesgo, nele, nada de inquietude, nada de sugerido : O Estrangeiro oferece-nos uma sucessão de vistas luminosas. Se elas expatriam, é somente devido ao número delas e à ausência de um laço que as unisse. Manhãs, claros fins de tarde, tardes implacáveis, eis as suas horas favoritas; o Verão perpétuo de Argel, eis a sua estação. A noite não tem qualquer lugar no seu universo. Se fala da noite é nestes termos. « (...) acordei com estrelas sobre o rosto. Subiam até mim ruidos campesinos. Aromas de noite, de terra e de sol refrescavam-me as têmporas. A paz maravilhosa deste verão adormecido entrava em mim como uma maré». Quem escreveu estas lihas está o mais longe possível das angústias de Kafka. Está bem tranquilo no coração da desordem; molesta-o talvez a cegueira teimosa da natureza, mas tranquiliza-o, o seu irracional não é senão um negativo: o homem absurdo é um humanista, só conhece os bens deste mundo.»

sábado, junho 30, 2007 10:19:00 da tarde  

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