quinta-feira, março 20, 2008

1240 - a culpa e a desculpa


Gosto de me pensar como um filósofo de sofá.
Há os treinadores de sofá que no sábado à tarde assobiam, na quarta à noite acenam com lenços brancos e na segunda à noite, gritam: Viva, Pau... Pau... Paulo és o melhor treinador do mundo (e com o penteado mais fixe).
Há uma frase que define a filosofia, esta: força moral e elevação de espírito com que o Homem se coloca acima dos preconceitos, poderia acrescentar, ainda: amor ao saber, não o faço, obviamente, o amor é coisa de gaja e se atentarmos na primeira frase vemos que a filosofia é coisa de Homem com força moral e elevação de espírito, palpita-me que os governadores de Nova Iorque [para os leitores que dizem: blogue e poste, New York para os leitores comuns] não são filósofos.
A minha filosofia diz-me que amar e amargar andam de mãos dadas, no pain, no gain.
Prof. Alves Jana, nunca foi meu professor mas eu fui seu aluno.Pode parecer uma palermice o que escrevi mas não.Naquele tempo (há muito tempo) não existiam aulas de substituição mas existiam alunos interessados (era o meu caso).O professor tinha fama... «o gajo sobe para cima das mesas», «olha-nos de uma maneira que parece que nos hipnotiza» dizia-se, diziam-me colegas.Um dia lá fui assistir a uma aula, pedi autorização e entrei, como quem vai ao cinema ou ao teatro.Não desaproveitei o tempo, lembro (julgo lembrar-me) que fez o número de subir para a secretária e de falar de contexto e de pregar quadros à parede e tal...Ganhou um leitor para o novo «blog», no entanto, esta catalogação de crianças remete-me (remete-nos?) para uma questão que já debatemos... a questão da responsabilidade individual e colectiva.Gostei da ler este «post», dá-me razão (eu gosto de ter razão) o colectivo é a soma de comportamentos individuais, confrontando as lideranças «amansa-se» o grupo.Gostei do modo como agiu, contrariando os seus próprios princípios, aquelas crianças são fruto da sociedade onde foram criadas e têm de ter liberdade e tal...
Este comentário originou vários posts:
Também, me ri...
Aqui chamo a atenção para o meu comentário (se necessário voltar a reler o post que dera origem ao confronto de ideias).
Eu afirmo que o homem é, em cada momento, produto essencialmente de duas coisas: o seu património genético, estável, e a sua história pessoal, em contínua evolução. E defendo que a sua história é resultado de quatro dimensões: o seu património genético, o seu meio ambiente, físico e social (a eco-formação), a acção de outros próximos e significativos (a hetero-formação) e depois, só depois, a partir de e por dentro de aquilo que a história pessoal fez do indivíduo é que este ganha autonomia e poder sobre a sua história pessoal (a auto-formação). E defendo ainda que, em cada momento, cada um de nós é um elemento num todo sistémico e que, por isso, o nosso comportamento depende em grande parte do sistema e depois, conforme o poder de autonomia e resistência de cada um, dele mesmo.
Caro professor é impossível rebater isto, eu sou sportinguista, sei muito bem que a culpa é, principalmente, do sistema e depois, individualmente, de cada um dos protagonistas.
Ortega y Gasset dizia o mesmo mas colocava a tónica no Eu, eu e a minha circunstância.
Ora aconteceu que o meu comportamento veio ao contrário do que era previsto: «- Coitados, eles são bons mas a malvada da sociedade faz com que sejam uns indisciplinados...»A tese de Pedro Oliveira parece (digo: parece) ser ao contrário: Malvados, eles são maus mas a boa da sociedade mete-os na ordem...
A minha tese não era essa. A minha tese e a do padre Américo é que não há maus rapazes, mas ao contrário do padre Américo (e do prof. Jana) acredito que há rapazes e raparigas com maus comportamentos, com comportamentos incorrectos e que é aos pais primeiro, à sociedade em segundo e aos professores em terceiro que compete corrigi-los.
(não estou a falar de tatuagens, nem de piercings, nem de beijinhos nos intervalos, obviamente)
Contra?!?!
Dito de outro modo, eu procuro estar não contra os meus alunos, mas contra aquilo que os ameaça. E ajudá-los a perceber isso mesmo.Nem sempre consigo? É claro que não.
Teorias - 3
O comentário de Pedro Oliveira, que aqui abordei já em duas entradas, merece mais algumas notas. Fiz uma primeira análise. Mas é necessário dar-lhe continuidade. Porque...Ele tem um lado positivo.Na verdade, reconheço que tem havido uma linha de actuação de complacência com o desleixo, a infantilidade tardia, a preguiça, a falta de educação, a ignorância militante...E se a aposta no "tudo é a vontade do aluno" é pura ideologia, também esta atitude de complacência é outra ideologia: "coitadinhos, eles não têm culpa, deixa andar". Nada sustenta esta posição, senão também a demissão pura e simples. E também neste caso com o aluno a ser a vítima da demissão. A voz de Pedro Oliveira é, pois, de denúncia desta política pedagógica.Só que um erro não se corrige com outro erro.Mas a palavra de Pedro Oliveira tem ainda uma outra - grande - razão de ser. De facto, a vontade não é uma realidade originária, que possa ser exercida a partir do nada. Se não for educada, se não for desenvolvida, se não for treinada, não existe como potencialidade de acção. Ora, muita da nossa pedagogia tem esquecido isto, tem descurado o trabalho de "educar a vontade". Eu sei que esta própria expressão cheira a bafio, a ranço. Porque diz a moda que isso não se faz. Mas, se não se faz, devia fazer-se. E é isso que XX exige. E com toda a razão. A vontade, não sendo o recurso dado à partida, só pode ser formado ao longo do percurso. Mas só pode ser formado se for estimulada a sua formação.Costumo dizer explicitamente aos meus alunos: Quem faz tudo o que quer, dentro em pouco não consegue fazer aquilo que quer. Ou melhor, nem sequer consegue querer.É disto que nos fala a voz denunciadora de Pedro Oliveira. E nisso tem razão.Contudo, parece-me haver dois pormenores que esquece:- que só temos o direito de exigir o que pode ser dado;- que a razão da nossa actuação mede-se pelos seus resultados.Mas, aí, tudo se joga no campo de cada caso concreto.E nunca teremos a certeza da medida em que temos ou não temos razão.
Os leitores que vão passando por aqui sabem que me sinto estimulado (salvo seja) com o confronto de ideias e com trocas de opiniões.
Alves Jana é um homem inteligente e um professor preocupado com os alunos e não, apenas, com o dinheiro que lhe é creditado na conta por volta do dia vinte de cada mês, acredito que, também, não se sinta melindrado por ser avaliado. Ele próprio «auto-avalia-se» e permite que estranhos (eu) o avaliem, em vez de choramingar, indignar-se ou passear cartazes, argumenta e contra-argumenta, possui ideias próprias e partilha metodologias, bom seria que cada um daquele cem mil manifestantes fizesse o mesmo.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"Fale e eu esquecerei;Ensine-me e eu poderei lembrar-me;Envolva-me e eu aprenderei."

(Benjamim Franklim)

quinta-feira, março 20, 2008 6:44:00 da tarde  
Blogger r said...

Isto é um «post» complexo.
Apetece-me tecer-lhe imensas considerações, tipo monólogo comentativo, porque o meu caríssimo amigo, gosta de discutir ideias, mas raramente dá retorno ao exposto.

Vou tecer-lhe algumas considerações repartidas, apenas e tão-só, por uma questão metodológica.

Filósofos somos todos. Certamente que aprendeu isso nas suas aulas de (História da) Filosofia, não ganhamos é a vida, enquanto tal.

Não usaria o conceito «Homem» para definir a Filosofia. Se ela se coloca «acima dos preconceitos», denunciando-os com a finalidade de os desconstruir, entendo o uso desse conceito, exactamente, como um preconceito/ideia pré-concebida histórica e socialmente. A Filosofia fez-se, principalmente, no masculino, pelas razões que conhece tão bem como eu. O uso de maiúsculas, não elimina o preconceito. Há mulheres filósofas! A Filosofia, será elevação do espírito no e pelo qual o ser humano (pensante), supera preconceitos.

Conceber a Filosofia como «amor ao saber» é, como sabe, o entendimento primeiro, remetendo à sua etimologia.

«obviamente, o amor é coisa de gaja e se atentarmos na primeira frase vemos que a filosofia é coisa de Homem com força moral e elevação de espírito,»

Obviamente, que esta sua afirmação é uma mera provocação. Seguindo a sua linha de raciocínio, diria que o amor não é «engajado», mas pode resultar num «engajamento» que valha a pena ser vivido. Experimente e verá que há coisas que chegam a doer mais, tipo uma dor de dentes (bem sei que tem dentes perfeitos).


«A minha filosofia diz-me que amar e amargar andam de mãos dadas, no pain, no gain»

Bom, se a «filosofia» é sua, nada posso dizer. Todo o começo é subjectivo (penso eu), mas a Filosofia, não é pessoal, «diz» o universal.
O que lhe diz (a si) que «amar e amargar andam de mãos dadas», talvez seja a sua vivência, se lhe quer chamar filosofia, ok!, aliás se há , também, aquela outra filosofia do futebol…

Pessoalmente, não creio, de todo, que amar, amargue, mas a minha opinião, não interessa, aqui, para coisa alguma.
Se, por outro lado, quer remeter, para a ideia que o amar não está dado, mas resulta duma construção, dum caminho…. Aí, já concordo.

Um dos meus «posts» preferidos, deste seu «blog» é aquele onde se fez um levantamento ds palavras «escondidas» em santamargarida. Hei-de reve-lo, a ver se escapou alguma.

Permita-me discordar em absoluto:

a) Não há professor sem aluno. A relação pedagógica é, antes de mais uma interacção num contexto particular.

b) Tenho sérias dúvidas se, o modelo do professor sedutor de «Clube dos Poetas Mortos» será aquele que serve ao contexto actual da escola pública e, principalmente, a um professor de Filosofia. Não é uma questão gratuita, porque o ensino da Filosofia de nível secundário (é desse que falamos), sendo que, é para não iniciados (jovens, adolescentes... cibernautas, consumidores de toda e qualquer marca, filhos de famílias outras...) coloca, imediatamente, a questão de se saber como captar a atenção desse (tipo de) aluno e aluna e, mais: se, pela sua própria natureza (a Filosofia) encerrará a priori uma pedagogia. Etc e tal, isto já são questões particulares, face à filosofia escolar.

Deixe-me, ainda, para terminar este comentário, acrescentar:

a) Sou professora de Filosofia.
b) Dentro da sala eu sou a autoridade; sou adulta, a professora, tenho conteúdos a ensinar e domino a metodologia. Não subo para cima das mesas,nem me sento nelas, porque seria uma falta de educação. Isso, é daquelas atitudes que cabem no que alguns teóricos designam por «currículo oculto» e, o que os estudantes apreendem de forma muita clara.

c) O exposto em b) não anula o privilégio que dou ao diálogo, à competência de escuta, como metodologia principal. Aí, radica, na minha perspectiva, o tal «ír ao encontro dos interesses dos alunos», que mais não é, do que desmontar os ditos preconceitos e ideias mal estruturadas,desprovidas de sólida argumentação e conseguir que escutem a si próprios e aos outros e saibam ouvir, ainda que, eventualmente, possam não concordar com os outros.
«o colectivo é a soma de comportamentos individuais,»

Este, é, daqueles temas que, tenho a certeza, havemos de discutir...
Penso que assenta numa perspectiva epistemológica reducionista que julga ser possível, conhecer o todo, dissecando as partes.
Repare, se o colectivo, fosse, apenas o resultado linear da soma de cada individual, seria muito fácil conheer em rigor esse colectivo e, por consequência prever o comportamento desse colectivo. Pedro, não é assim, como sabe. O colectivo, resulta duma interacção complexa dos concretos-individuais, é multidimensional... uma rede entrelaçada de múltiplos nichos (formados em constante retroacção), não se deixa apreender em somas parcelares.

A responsabilidade,obviamente, é sempre na primeira pessoa, antes de tudo. Penso os meninos e meninas como seres naturalmente amorosos, cujo modelo cultural de aprendizagem, converte em seres de várias naturezas. Corrigi-los é trabalhoso!

«A culpa é do sistema».... Blá, blá, blá... o sistema é uma abstracção! O estudante mastiga pastilha elástica na aula, a culpa é do sistema. Não devia ser permitido vender essas porcarias. O estudante tem um telemóvel, ligado durante a aula, a culpa é do sistema. Não deviam inventar essas tretas. O estudante perfurou o estomago com o Piercing na aula de Educação Física. A culpa é do professor, não devia ter pedido ao estudante aquele exercício. O estudante, recusa-se a cumprir a ordem de saída da sala de aula. A culpa é do professor que o não motivou para o assunto da aula.
Não tenho pachorra para discutir tretas destas!
A liberdade não é algo que se tenha. A liberdade, conquista-se.

Vou usar maiúsculas, não que esteja a gritar...

NUNCA VI ESCRITO EM LIVRO ALGUM DE PEDAGOGIA E AFINS QUE SE NÂO DEVE EDUCACAR A VONTADE. Claro, não li todos os livros de pedagogia, deve estar em algum que ainda não li. Pois!... Acredito que Einstein não desejava que os americanos matassem japoneses. Hermenêuticas!...

Já não me apetece tecer mais nenhuma consideração a este «post».
Sabe, "eu não tenho filosofias, tenho sentidos"....

Obviamente, Pedro, que não disse tudo o que penso , sobre o que escreveu. Tal como o meu amigo, constrói postes (da luz?...) como lhe apetece, também eu, construo comentários, face à circunstância internet.

Boa noite, então.

quarta-feira, junho 18, 2008 11:41:00 da tarde  

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