52/2010 - muitos sonhavam ser electricistas mas morreram electrocoarctados

O seu sonho era ser electricista.
Um sonho concretizado após se alistar aos 17 anos como voluntário na Marinha, onde serviu como militar durante 12 anos e mais 12 como civil. Como militar esteve nos submarinos durante quatro anos. Passou “semanas inteiras debaixo de água”, mas era à tona que tinha os maiores problemas, pois enjoava frequentemente. Escapou à guerra colonial porque era sempre o melhor dos cursos, condição que lhe permitia escapar à mobilização para África.

Com algumas verbas que sobraram foi deliberado colocar nas Muralhas do Forte do Bom Sucesso os nomes de todos aqueles que perderam a vida em combate. E foram cerca de 9 mil.

Nove mil.

Gosto de as pensar como nove mil que se libertaram do corpo e são estrelas que brilham no céu.

Bem sei que outros com mais inteligência e estudos, sabem que aqueles nove mil morreram porque não estudaram afincadamente.

O estudo liberta, libertava.

Pergunto-me se Mamadu Same, Mamadu Só, Mande Baldé e os outros 8.997 que tombaram no continente de onde todos viemos sabiam que se estudassem muito, se fossem muito inteligentes não morreriam.

Olho as fotografias e vejo-me ali, podia ser eu, aquele quarentão que chora com a mão apoiada no nome do pai, podia ser eu a chorar num domingo de Inverno e a deixar flores junto a um nome que representa uma de nove mil estrelas que brilham no céu.

fontes & alambiques

entrevista ao mirante

do mirante, monumento