terça-feira, abril 04, 2006

264 - rebuliço...


Ampliem a imagem, leiam a dedicatória, reparem na data [isto soa um bocadinho imperativo mas valerá a pena].
Já tinha confessado em posts anteriores que gosto de comprar objectos em segunda-mão, um livro é um objecto ou não?
Este livro é especial, acabou de ser impresso a 5 de Maio de 1974, dez dias depois.
Foi oferecido pela Nônô (quem seria a Nônô? será que, ainda, está viva?) aos «queridos», quem seriam? a 14 de Maio de 1974, tinham passado cerca de três semanas do dia do rebuliço inicial.


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Os índios da Meia-Praia

«Adeus disse a Monte Gordo
(Nada o prende ao mal passado)
Mas nada o prende ao presente
Se só ele é o enganado

E se a má língua não cessa
Eu daqui vivo não saia
Pois nada apaga a nobreza
Dos índios da Meia-Praia»

Zeca Afonso

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A dedicatória diz-nos que a Nô-Nô foi, é, uma Senhora letrada, culta, citadina, pertencia à classe média-alta, com posses e muito interessada e atenta ao que a rodeava.

Quanto aos queridos, torna-se mais difícil. Não há nada na dedicatória que deixe antever quem eram, a não ser que eram “queridos” da Nô-Nô.

Boa compra e espero que uma leitura ainda melhor.

Talvez venhas a ter a sorte de conheceres um dia a Nô-Nô.

terça-feira, abril 04, 2006 10:10:00 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

Análise muito interessante.

terça-feira, abril 04, 2006 11:08:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A dedicatória data de 14/5/1974.
Sem esquecer a data, repara:
Era mulher!
Inexistem erros ortográficos (atenta por ex. na palavra rebuliço).
Possuía-o (adquirira-lo) 9 dias após a impressão.
Pergunto: achas provável que o livro estivesse ao acesso de uma mulher rural?
Esta teria dinheiro para despender em livros? Numa correria desatada (9 dias)?
A quem poderia interessar um livro que narrava tão recentes acontecimentos?

terça-feira, abril 04, 2006 11:42:00 da tarde  
Blogger SP said...

Eu acho que a senhora se chamava Leonor e era de esquerda, (apesar de no 24 serem "todos" da situação e no 25 serem todos lutadores anti-fascistas), e ofereceu o livro a alguém que estaria fora (nas ex-colónias ou no exílio).

quarta-feira, abril 05, 2006 12:12:00 da manhã  
Blogger pedro oliveira said...

asna, faz sentido o que dizes.

sp, tens razão na análise. Provavelmete, seria para algum familiar das ex-colónias (irmãos, filhos, sobrinhos).
Quanto ao ser de esquerda, não sei. Repara que não há nenhum juízo de valor sobre os acontecimentos. Não diz nada do género: "A revolução derrubou o fascismo"... fala em dias de rebuliço e diz que muitas coisas se passaram. Parece-me que a dedicatória é escrita por alguém expectante, não, necessariamente, eufórica.

Para mulheres como a «Nô-Nô» fará sentido passados trinta e dois anos ter-se aprovado uma lei que na prática diz que as mulheres são umas incompetentes e só chegarão à política se tiverem o acesso assegurado por quotas?

quarta-feira, abril 05, 2006 6:21:00 da manhã  
Blogger SP said...

Bem, Pedro, se fosse de direita (e temos que contextualizar, quem se assumia de direita era apoiante do regime salazarista) e endinheirada, como sugere a asna, provavelmente não compraria o livro e estaria no Brasil, não em Lisboa.

quarta-feira, abril 05, 2006 12:51:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ó Pedro, mas a “dita cuja” faz sentido para alguém?????
Só se for para as elites políticas do PS e BE que oportunistamente (porque estão na AR e são, infelizmente, maioria) se "arrogam" no direito de determinnar qual a “quantidade de participação” feminina na vida politica.


Estou em crer que a “dita cuja” ainda haverá de ser declarada inconstitucional por configurar uma clara violação de outros direitos fundamentais consagrados na constituição e, profunda e acertadamente, consolidados na democracia portuguesa.

quarta-feira, abril 05, 2006 2:06:00 da tarde  

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