quarta-feira, maio 16, 2007

745 - madraços*

Já tinha abordado o tema das praxes.
O Sr. Dr. Rui Lopes alertou-me para este caso, esse alerta mostra que existem pessoas que apesar de benfiquistas (ninguém é perfeito) possuem algum «fair-play».
Este ano após participar (como convidado) numa benção das fitas na UBI percebi (já tinha percebido) a hipocrisia que preside a este tipo de comemorações ... tradição académica na Covilhã?
Não há lei neste país?
Danificam-se os coisos a um gajo e dizem-nos isto:
«O dux veteranorum da Universidade de Coimbra confirmou a queixa e garantiu que “as pessoas – também pertencentes à Faculdade de Medicina – estão devidamente identificadas”. “Ainda não estou na posse de todos os dados, mas esta semana serão feitas todas as averiguações”, garantiu João Luís Jesus.»
Quem é este gajo (pergunto eu)?
O puto fica com os «tintins» danificados... se preferirem numa linguagem mais técnica:
«alguns doutores raparam os pêlos púbicos a um caloiro de Medicina e, ao fazê-lo, terão rompido parte do escroto do aluno»
e é o «dux veteranorum» que faz as averiguações?
Outra agulha...
Nunca vesti um traje académico e estudei (completei uma licenciatura) na Universidade mais antiga do país (a clássica de Lisboa, obviamente) nunca praxei ninguém (nunca fui praxado).
Estive na Universidade como estou na vida, com respeito pelos outros, com respeito por mim.
Respeitar implica não humilhar.
Respeitar implica respeitar as diferenças.
Durante o meu curso (fui sempre trabalhador-estudante) tive vários trabalhos, curiosamente, recordo com carinho os meus camaradas nas obras (no Prior Velho / Loures) que me incentivavam e de algum modo sentiam orgulho que um deles fosse estudante universitário, isto para dizer, que para mim eram mais prestigiantes as calças de ganga coçadas, a camisola suja, que ficava pendurada num prego no vestiário que o fato negro e a camisa branca, displicentemente, vestidos por alguns que nunca precisaram de suar a roupa (comprada pelos papás) que envergam.
* madraços, madrassa ... é semelhante, não é?

11 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A questão que nos trazes é pertinente.
A raiz dessa questão, na minha perspectiva, não se encontra no meio académico. Terei de viver mais alguns anos, para tentar compreender, por exemplo, a relação entre a imposição de depilação pública de qualquer parte do corpo e a medicina. Ou, ainda, outros casos que têm vindo a público e se reduzem basicamente (não estou incorrendo em generalizações falaciosas) à simulação gratuita do acto sexual. Devíamos, digo eu, interrogar-nos. Uma cultura, cuja juventude universitária, mostra apetência para a humilhação do outro, a redução do outro a mero objecto para deleite gratuito duma audiência… etc e tal e tal, é, no mínimo, inquietante.

“Dois” conceitos fundamentais da dimensão humana, deviam ser revistos: a sexualidade/[barra]afectividade. E, para eventuais leitores menos atentos, não estou aqui a falar de «gajas boas» ou do «homem da coca-cola light». Sexualidade é um conceito que supera tais reducionismos de bolso e de conversa macho-feminista-de-trazer-no-bolso, não estando de todo apropriado por quem obriga uma jovem a simular, perante uma audiência em histerismo, a prática de sexo oral ou, por quem depila a púbis a um miúdo naquele contexto, lesionando-lhe o escroto. Etc e tal e tal…

Lembro-me que fui praxada. Foi um momento de acolhimento.
Sendo caloiros de uma licenciatura em Filosofia, fizeram-nos passar pelos prisioneiros da caverna de Platão. Os nossos grilhões eram feitos de cartolina azul (ainda a guardo) e no final recebemos uma pequena pedra (filosofal, quiçá). Estávamos em 1987 e foi numa instituição católica. Sim, sim, tal e qual…este comentário é puritano e comprei o canudo. Vou ali rezar duas avé-marias e já volto. Nunca recebi apoio financeiro ao estudo (por mérito) e terminei com média de 19,9 valores. Nunca fiz exames orais e escritos nem chumbei a Teoria da História com o intragável (pedagogicamente falando) Borges de Macedo.

Epílogo
A generalização indutiva não é um tipo de raciocínio confiável. Eu sei. Ensinou-me um fantástico jesuíta (guardá-lo-ei eternamente no coração) em Antropologia Filosófica. Estranho, pois que, o devia ter aprendido em Lógica com o Engenheiro do Técnico.

O post ainda me suscitou outra leitura. talvez regresse para outro comentário.

quarta-feira, maio 16, 2007 12:41:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Antes do tema em questão, a Clássica de Lisboa não é a Universidade mais antiga do País (pois a Clássica foi fundada em 1911 com a República, embora já houvesse o Curso Superior de Letras - Futura Faculdade de Letras - e a Escola Médico-Cirurgica - futura Faculdade de Medicina. é verdade que o Estudo Geral fundado em 1290, começou a funcionar em Lx, sem dúvida, dançou entre Coimbra e Lx várias vezes, mas regressou definitivamente a Coimbra em 1537) E a data da fundação da Universidade de Coimbra é 1290!
Isto era um à-parte.
Quanto à questão das praxes, referes quem é o Dux Veteranorum? o Dux Veteranorum é a autoridade máxima da praxe e em Coimbra hà o Código da Praxe, que desta vez não foi cumprido, pelo que o Dux fará as averiguações, ouvirá ambas as partes e irá condenar quem abusou a praxe, que será a exclusão eterna da praxe, ou então, ser caloiro "ad eternum", são as penas máximas. No entanto, segundo já me chegou aos ouvidos, o Dux também já terá aconselhado o caloiro que foi sujeito a humilhação a apresentar queixa às autoridades policiais.
Vamos ver no que isto dá.
O certo é que defendo a praxe como integração, que cantem na Rua, bebam uns copos, façam algumas brincadeiras que não ofendam ninguém, umas declarações de amor, tudo bem. Só que isto que se passou não é integração e é por causa de estupores que praticam este género de praxe que esta é depois condenada!
Se eu fosse Dux Veteranorum, desgraduava-os para caloiro "ad eternum" ou eram expulsos da praxe, isso depois há-de saír a decisão do dux, depois quando souber digo-te!

quarta-feira, maio 16, 2007 3:06:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sempre regressei...por acaso surgiu esta questão da praxe durante o almoço entre pessoas das mais variadas áreas e universidades.

Retomando... a questão colocada no post, parece-me, está para além duma visão superficial da identidade de A, B ou C. Quem é a pessoa do Dux ?... Quem é a pessoa do caloiro que, enquanto tal, se deixa humilhar?...

Códigos de conduta nas mais variadas áreas profissionais, orientadores e reguladores da profissionalidade não implicam necessariamente «boas práticas».

Que valor terá para o Dux e outros o traje académico?...o que simbolizará para ele?...

E permitam-me a ironia... o jovem fica com uma dor (suponho)e, eventuais (esperemos que não) danos nos ditos e o fazedor da coisa é, digamos, despromovido...estamos a discutir alguma coisa séria?... ou é "troca" de palavras numa janelita de blog?... faz-me lembrar aquela coisa (gosto da palavra coisa. serve para tudo.)de : eu sou melhor do que tu, porque estudei na pública e tu compraste o curso na privada e eu ainda sou melhor do que o outro, porque não fiz o curso numa ESE...blá blá blá... e eu ainda sou melhor do que todos vocês, porque... blá blá...Licenciado=obteve licença para...investigar, por exemplo, ler, estudar, começar a pensar por si, ao invés de papaguear o que lhe incutiram em , pelo menos, 17 ou 18 anos de escolarização.

Até logo, tenho a roupita para engomar e o jantar para preparar.

quarta-feira, maio 16, 2007 4:49:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Em 1902,um grupo de anti-praxistas liderados por Josè de Arruela consegue acabar com o canelão,praxe na qual os novos alunos eram arrastados ao pontapè pelos praxista na ponte de Coimbra...

Integração .

Dvra praxis sed praxis!

quarta-feira, maio 16, 2007 6:20:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro amigo Manuel Marques, permita-me corrigi-lo! O Zé d'Arruela foi um dos piores praxistas desse tempo (não sei ao certo quando fez a primeira matrícula, mas em 1895 já estava matriculado) e juntamente com o Pad' Zé, Afonso Lopes Vieira e Avelino Calisto, eram dos piores praxistas. Já agora, não se esqueça que está a falar com um dos investigadores da História da Academia de Coimbra, o que, naturalmente inclui a Praxe! De facto o canelão existiu, só que não foi abolido em 1902, mas em 1910. Tal como toda a praxe foi abolida com a implantação da Reúbluca e só seria retomada em 1919, já sem o canelão. De facto, concordo que o canelão era uma estupidez, pois consistia em que o caloiro passasse a porta férrea entre alas de Doutores levando forte canelão de um lado e dou outro até conseguir transpor a porta-férrea.
Sr. Manuel Marques, se porventura quiser saber mais destas coisas, aconselho-o a ler 3 obras importantes:
- LAMY, Alberto de Sousa - A Academia de Coimbra (1537-1990). Lisboa Rei dos Livros, 1990;
- PRATA, Manuel Alberto Carvalho - A Academia de Coimbra: Contributo para a sua História. Coimbra: Imprensa da Universidade, 2002 - Trata-se de uma Tese de Doutoramento.
Não me leve a mal estas críticas mas tinha de lhe corrigir esses erros que estava sobretudo nas datas acerca do canelão e do Zé d' Arruela que porventura faria mil vezes mais mal ao caloiro em questão do que estes fizeram. E, é claro, que condeno os praxadores que ultrapassaram todos os limites, defendo a praxe mas com integração e limites e espero que o Conselho de Veteranos lhes dê uma pena exemplar que pode ir da expulsão da praxe a "Ad Eternum", significa que serão desgraduados para caloiro e depois não passarão daí, sofrendo depois a praxe da parte daqueles que antes tinham praxado!
Mas é ... DURA PRAXE SED PRAXIS

quarta-feira, maio 16, 2007 7:13:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Cara Rosa, o que acontece na sua frase "o fazedor da coisa é, digamos despromovido", de facto, é uma das duas hipóteses que poderá acontecer, ou é despromovido a caloiro eterno (desgraduado para caloiro e não mais subirá na hierarquia da praxe, o que faz com que para o ano, caso a pena seja aplicada, os que ele andou a praxar forte e feio se vinguem a valer, o que será um grande suplício moral), a outra hipótese é a expulsão definitiva da praxe, isto é ficam eternamente banidos da praxe! Isto será tortura psicológica para estes praxistas. No entanto, permitam-me adiantar que o DUX VETERANORUM assumiu publicamente que aconselhou o caloiro que foi alvo da praxe abusiva a dirigir-se à PSP e apresentar queixa às autoridades para que o caso não seja julgado apenas pela instância que dirige a praxe, o Conselho de Veteranos. O Conselho de Veteranos, já reuniu com o caloiro e agora vai ouvir também os que abusaram na praxe têm a dizer em sua defesa (pois em qualquer situação devem ser ouvidas ambas as partes) para depois tomar uma decisão e assim que eu tiver conhecimento desta, comunicarei ao Pedro Oliveira.

quarta-feira, maio 16, 2007 7:27:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ai que os bifes ficam todos queimados...blogar e cozinhar a um só tempo é complicado...

Caro Rui Lopes,
muito aprecio as informações que coloca on-line. Neste pequeno espaço, por exemplo, fez descrições pormenorizadas que desconhecia. Muito obrigado pela partilha.
Quanto à questão do post e, dado que comentou o meu comentário (desculpe a redundância), gostaria de fazer notar o seguinte:

1. Interessa-me a pragmática do acontecido, por mera curiosidade.

2. Interessa-me principalmente reflectir sobre o(s) fundamento(s) éticos da acção praticada. Isso, em boa verdade , seria a única coisa que me interessaria discutir.

2.1. As circunstâncias e as identidades (o Dux fulano tal e o caloiro tal...), são meras descrições que correm o risco de não ir para além disso mesmo.

2.2. O tal suplício moral...repetir o acto...pois...os bifes chamam por mim.

Pedro, tenho-me esquecido.
Desconhecia a palavra madraço. Se já a tinha lido, esquecera-o.

Moral da história: aprendi uma palavra e umas quantas informações históricas.

quarta-feira, maio 16, 2007 7:55:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

bolas!....
amigo pedro, pensa num post sobre a cadela do special one ou agricultura ou vida campestre.
madraços...não sei nada sobre.

lei da identificação madraceira: na vida quantas coisas não parecem o que não são...

esta lei não é minha. li algures. não sei precisar onde.

quarta-feira, maio 16, 2007 9:05:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

bonjour...!


.oded oa otsog o rezaf e ohlev mu rarucorp uov ,ratnemoc arap àh ovon ed adan omoc

quinta-feira, maio 17, 2007 7:58:00 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

ko (ko oa oirártnoc, oralc...)

quinta-feira, maio 17, 2007 8:50:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

...ko oãn, át?!... (ós es rof omsem ed ok oa oirártnoc)

ok, ko...isso não é uma canção qualquer?

quinta-feira, maio 17, 2007 8:59:00 da tarde  

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