sexta-feira, janeiro 15, 2010

26/2010 - bailador, dando baile à dor, parte um

Manuel terá sido registado como Manoel de Oliveira Costa, era assim que se escrevia aquando do seu nascimento, algures no último quartel* do séc. XIX.
Não se conhece o registo do nascimento mas sabemos que nasceu em São Miguel do Rio Torto, concelho de Abrantes.
Manuel deveria ser um exemplo para pessoas como nós, que, confortavelmente, instalados, lemos e escrevemos num computador e temos o mundo todo ao alcance dos dedos.
Nele, importantes eram os dedos dos pés, pés que utilizava para bailar e para caminhar nas suas intermináveis viagens de negócios e de prazer.
Chegou a exibir os seus dotes de bailador, fandanguista no teatro São Luís em Lisboa, actuou, também, na Covilhã mas acreditamos que era nos bailes populares, nas feiras, com o povo, que se sentia, autenticamente, ele.
Imaginamos o seu ar determinado, o bailador de fandango não sorri, desafia, desafia-se.
Cada vez que um fandanguista dança, compete, interiormente, tentando ser mais rápido, mais certo, mais eficaz que na última dança, compete, também, com o seu parceiro de dança, procurando vencê-lo.
Na época de Manuel, presumimos, que não existisse o dançar ao desafio (como o conhecemos agora) seria one man show onde cada um durante um determinado período mostrava as suas habilidades, sozinho, num palco improvisado.
Deixemos, então, Manuel a bailar o seu fandango dobrado, olhado com admiração pelos outros bailadores; brevemente, falaremos de mais alguns episódios da sua vida e da herança que deixou nos bailadores de Santa Margarida da Coutada.
Nota: Para a elaboração deste post utilizámos** como fonte uma publicação chamada: Rios de Palavras, Colectânea de Poetas Populares de Constância - 1997, Câmara Municipal de Constância.
Voltaremos a este tema.* quartel, no sentido de quarta parte de um todo, como nos referimos a um século, terá nascido entre 1875 e 1900
** quando um único escritor (eu) escreve: utilizámos, em vez de utilizei, chama-se a essa manigância: plural de modéstia... também lhe chamam: plural magestático; considerando o tema que estamos a tratar, chamemos-lhe: plural de modéstia; a modéstia em falar duma arte que não domino (embora tenha nascido no dia internacional da dança, eh, eh, eh); a modéstia de este e os outros posts que escreverei sobre este tema terem sido provocados por um comentador...

4 Comments:

Blogger Unknown said...

Sendo eu um triste operário
mal ganho prós meus filhinhos
e ainda reparto com os pobrezinhos
um pouco do meu salário
sendo tu um milionário
a fartura te consola
com esse chapéu de cartola
sem nenhuma apoquentação
a quem te estendeu a mão
burguês não deste esmola.

Manuel de Oliveira Costa.
Fonte:Colectânea de poetas populares de Constância.

sexta-feira, janeiro 15, 2010 8:54:00 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

«Se alguma vez qualquer pobre/ À tua porta bater/ Dai-lhe pão se puder ser/ Ou uma moeda de cobre/ É dever dum homem nobre/ Esse que é delicado/ Para que seja respeitado/ Em qualquer ocasião/ E não é admiração/ Socorrer o desgraçado»
(mesma fonte)

Camarada,

Encontramos aqui uma certa ingenuidade antropológica, facilmente, entendível na contextualidade histórica em que foi produzida.
Manuel foi um a espécie de Aleixo mais trabalhador, mais saudável, melhor dançarino e pior poeta.
Diria que Manuel Costa é filho da lezíria e da charneca, da cortiça e do rio; António Aleixo é filho de sapais e horizonte, de medronho e mar.
Aleixo e Costa; um algarvio e um ribatejano/alentejano um mesmo sentir, uma mesma crítica... dois homens contemporâneos contra um sistema, infelizmente, actual.

sexta-feira, janeiro 15, 2010 10:27:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Parabens pelo post, assim é que se ajuda a divulgar o concelho e a freguesia e continue porque á muitos outros "MANUEIS" no concelho que tambem merecem referencia.
E já agora um esclarecimento se me primite.
O FANDANGO (no ribatejo) sempre foi uma dança de desafio e dois ou mais bailhadores enfrentavam-se pelos mais diversos motivos, que iam desde ganhar a atenção da moçoila mais bonita do baile, a rodada dos copos de 3 ou até para ver quem era o bailhador mais forte (resistente)

João Carlos Barroso

sexta-feira, janeiro 15, 2010 11:25:00 da tarde  
Blogger r said...

Este comentário foi removido pelo autor.

sexta-feira, janeiro 15, 2010 11:31:00 da tarde  

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