sexta-feira, janeiro 15, 2010

28/2010 - então é preciso escolher

Existirá algo a que possamos chamar: rebeldia controlada?
A minha rebeldia são aquelas calças de ganga pregadas na parede com uma fisga de madeira, elástico e couro no bolso detrás.
Aquilo que me controla, que me segura, que me ampara é aquela pasta... a pasta do meu avô.
Lembro-o a sorrir, a andar (até ao depósito).
No tempo do meu avô Jacinto, da minha avó Deolinda, o caminho entre a Portela e o Vale do Mestre era ladeado por pinheiros bravos.
Não existia a casa branca nem as outras casas todas.
Havia um senhor e uma senhora que caminhavam amparando-se (também não existiam passeios).
Existiam sonhos.
Anos mais tarde por essa estrada passava um miúdo com uma acelera e uma pasta de couro presa no suporte.
A pasta do meu avô, a pasta que continha os saberes dos meus meninos de Alvega (os únicos meninos a quem vendi o meu pseudo-saber).
Às vezes penso nesse miúdo que fui, no privilégio que tive em, com pouco mais de dezanove anos, poder ensinar.
(nessa altura tinha o décimo segundo ano completo, o serviço militar obrigatório cumprido e trabalhado quase um ano numa fábrica de montagem de automóveis [a Mitsubishi em Tramagal])
Penso, dizia, nestes sindicalistas de bigode a exigirem o sol e a lua sem sentirem no coração o prazer duma criança ou dum velho que sorri porque aprendeu, compreendeu, apreendeu algo.

2 Comments:

Anonymous Luis Varino said...

Somente duas palavras, MUITO BOM.

O post, os links, o 2º link que possivelmente reflecte os sentimentos de um "bloguer" como tu, que por vezes se "põe a jeito" de ouvir o que não quer, talvez até porque diga o que não queria dizer.

Um abraço.

PS: Lembro-me bem dessa acelera, eh eh.

sábado, janeiro 16, 2010 10:48:00 da manhã  
Blogger r said...

O meu lado emocional lê este texto e pensa: que palavras meigosas.

O meu lado racional lê este texto e emociona: não seja lírico!, aos 19 anos de idade e mais um pouco leccionou, porque a História de Portugal, em geral e a do Sistema Educativo português, em particular, lhe permitiu que agarasse essa oportunidade. Não queira confundir o Estatuto da Carreira Docente com o acto de aprendizagem, propriamente dito e não aponte o dedo aos agentes principais da educação, como se fossem eles os responsáveis primeiros e
únicos pelo pais mediocre onde vivemos. Nem fica bem depois de um «post» sobre Alegre.
Essa narrativa do «self made man» é chão que já deu «post». Recrie outra.

O meu lado emoracional lê o texto e ousa:

- Pedro, se a mulher lá em baixo na imagem, come todas as uvas, como é que o homem, faz o vinho?

P.S.: O «link» que, julgo, nos oferece, pela segunda vez, é um bom texto, sim!, escrito por um autor que muito parece saber sobre «blogar» e quase tudo tem a aprender sobre o amar. Penso eu que nunca conduzi aceleras e de carros, sei que servem para nos levar aos sítios. Tão-só.
Essa coisa existencial de sermos mestres ou discípulos, não (nos) impede de ir aos Domingos, ao Futebol.
Proponho um novo título para a sua narrativa: O peso do dever-ser pesa de insónia e uma acelera.

sábado, janeiro 16, 2010 4:30:00 da tarde  

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