0042/2011 - soares não é fish, é uma alforreca

sou um homem dum outro tempo.

dum tempo em que a liberdade se conquistava em maio, em frança.

dum tempo em que a liberdade se conquistou (conquistou?) em abril, na república portuguesa.

sou um homem desse tempo, neste tempo.

detesto-o.

tanto quanto se pode desprezar alguém.

para mim, mário soares, personifica tudo o que não gosto, tudo o que abomino, tudo aquilo que é, negativamente, criticável, num ser humano, um merdas, portanto.

é por causa da guerra colonial e da descolonização? (perguntar-me-ão)

não, não é (dir-vos-ei).

meu pai foi (é) militar.

esteve desde 1961/1962 em áfrica, angola.

três comissões, dizia-se, muitos aerogramas, muito suor, muitas lágrimas.

muito sofrimento.

a dor que sinto não é a dor de meu pai.

(está vivo e feliz)

a minha dor é a daqueles que estão aqui.

nomes numa fria parede.

soares é um merdas porque não soube respeitar a dor dos pais que perderem filhos, a dor das mulheres que morreram virgens, porque o seu homem morreu na guerra, a dor, tantas dores que não são tecláveis...

soares é um merdas, porque disse que aqueles que foram para áfrica eram uma merda, uns merdas mandados por outro merda que caiu duma cadeira.

pesando toda a merda (ainda bem que este «post» não tem cheiro) onde estaria a maior merda?

apesar das duras palavras e do aroma a excremento humano, aquilo que me faz detestar soares, mário soares, é o desprezo que ele tem (tinha) pelo cheiro, pela voz do povo.

numa campanha eleitoral, soares passou em frente à sociedade recreativa portelense.

nas escadas da sociedade, gritou-lhe, jarofa (é uma alcunha):

«mário, vem beber um copo c'a gente»

diz soares:

«estes gajos, estes bêbados, estou farto destes merdas, deste povo»

disse-o, baixo, disfarçadamente, eu era um menino e ouvi, ouvi, ouviu-o, a seguir, improvisar um discurso de circunstância da alegria que sentia por estar ali, a agradecer «aquele amigo que me convidou para um copo», a minha bebida é a liberdade e o meu desejo é ser o vosso presidente, e tal, e tal...

o discurso da hipocrisia, um discurso fixe, um discurso de merda, um homem de merda.

(no meu peito tenho uma cicatriz provocada por um dos filhos de jarofa, um miúdo de convicções, como eu, mas com unhas mais compridas que as minhas... uma unhada no peito, provocada pelo filho dum grande homem)

os homens definem-se nas lutas, nas atitudes e nos copos que (não) bebem.

a moral deste «post» é a seguinte:

- jarofa ficou com o copo que bebeu

- eu fiquei com a minha cicatriz, com a minha história

- mário soares ficou com o seu (dele) alforroquento carácter.
amanhã a alforrequia continuará...