terça-feira, maio 31, 2005

2 - cavaleiro monge

Autor: Fernando Pessoa

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por casas, por prados
Por quinta e por fonte
Caminhais aliados

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por penhascos pretos
Atrás e defronte
Caminhais secretos

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por plainos desertos
Sem ter horizontes
Caminhais libertos

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por ínvios caminhos
Por rios sem ponte
Caminhais sozinhos

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por quanto é sem fim
Sem ninguém que o conte
Caminhais em mim

1 - punhete nas memórias paroquiais

PUNHETE NAS MEMÓRIAS PAROQUIAIS DE 1758

O que se procura saber dessa terra é o seguinte, venha tudo escrito em letra legível e sem breves.

1-Em que província fica? A que bispado, comarca termo e freguesia pertence?

He Villa, que está na Provincia de Estremadura, Bispado da Guarda, Comarca de Thomar.

2-Se é del-rei ou de donatário e quem é ao presente.

Hé de El Rej nosso senhor, que Deos guarde.

3-Quantos vizinhos tem e o numero de pessoas

Tem tresentos e noventa fogos e mil dusentas e deis pessoas da Comunhão.

4-Se está situada em campina, vale ou monte e que povoações se descobrem dela e quanto dista.

Está situada na ponta de hum outeiro, de modo que forma duas faces, huma para o meio dia e outra para o poente por esta lhe corre encostado do Norte para o Sul, daquella o Rio Tejo do Nascente para o Poente. Della se descobre a villa de Abrantes, que dista duas legoas: o lugar de Montalvo que dista meia legoa: o lugar do Barro que está da outra parte do Tejo, e distante hum quarto de legoa: e da mesma parte o lugar do Cruxifixo, que fica distante huma legoa; dos quais lugares somente o do Barro em parte está no termo desta Villa; e os mais no termo da Villa de Abrantes.

5- Se tem termo seu, que lugares ou aldeias compreende, como se chamam e quantos vizinhos têm.

Tem termo seu, em que não se compreende lugar ou aldeia alguma mais que a do Barro, em parte, como se diz assima os visinhos constarão das relaçoens de seus respectivos Parochos.

6- Se a paróquia está fora do lugar ou dentro dele e quantos lugares ou aldeias tem a freguesia e todos os seus nomes.

A Igreja Parochial he Matriz de Santa Margarida da Coutada, cuja freguesia fica da outra parte do Tejo, a que pertenssem os dois lugares assima referidos (?) o lugar do Barro e o lugar do Cruxifixo e da Igreja de Nossa Senhora da Assumpção, que fica desta parte do Tejo, caminhando-se para a Villa de Abrantes; (em esta) freguesia pertense o lugar de Montalvo referido no numero quatro supra; cujas apresentaçoens dá anualmente o Parocho da Matriz; a qual está situada dentro da Villa (no patio) que tem em todo o largo della: pello que e por estarem muito entulhados os dois referidos Rios, socede quando ha cheias grandes entrarem dentro della as agoas não sem grave dano da mesma e dos moradores da terra.

7- Qual é o seu orago? Quantos altares tem e de que santos? Quantas naves tem? Se tem irmandades: quantas e de que santos?

O Orago ou Titular da Igreja he São Julião que foi casado com Santa Basilissa, tem cinco altares: o maior em que está o Santissimo Sacramento, dois colateraes e dois no corpo da Igreja hum de cada lado, o colateral da parte do Evangelho he de Nossa Senhora da Piedade e o da parte da Epistola de nossa Senhora do Rosario: o seguinte desta parte he do Senhor da Via Sacra e o seguinte da outra parte de São Miguel, a he de tres naves: tem irmandade do Santissimo Sacramento das Almas; do Senhor da Via Sacra; e de São Pedro ad vincula.

8- Se o pároco é cura, vigário, ou reitor, ou prior, ou abade e de que apresentação é e que renda tem.

O Parocho he Vigario: a apresentação he do Padroado Real tem de Ordinaria quarenta mil reis, seis para casas, e trinta alqueires de trigo o que junto com o pe de altar, rendera hum ano por outro cincoenta moedas.

9- Se tem beneficiados: que renda têm e que os apresenta?

Não tem beneficiados; mas tem Cura Coadjutor e (?) clerigo este tem trinta e quatro alqueires de trigo, dezoito almudes de vinho, duas arrobas de cêra, dois alqueires de azeite huma moeda para lavage da roupa e meia moeda ou dois mil reis para ensinar doutrina nos domingos de tarde. E aquelle tem cinco mil reis e vinte alqueires de trigo ambos apresenta anualmente o Parocho.

10- Se tem conventos, e de que religiosos, e quem são os seus padroeiros.

Não tem conventos.

11- Se tem hospital: quem o administra e que renda tem?

Tem hospital, mas não tem renda; comtudo alguns pobres se curam nella por conta da Misericordia; à qual está unido por huma Provisão Real ou Decreto passado em trez de Outubro de 1585; sendo antes nos baxos das Casas da Camera.

12- Se tem casa de misericórdia, e qual a sua origem, e que renda tem: e o que houver de notável em qualquer destas cousas.

Tem Casa da Misericordia em cujo Cartorio se acha uma scriptura da compra do chão em que está situada, da qual se colage que teve principio em 30 de Junh0 de 1580. De presente tem de renda duzentos e vinte mil reis; pella charidade de alguns filhos da terra que lhe deicháram duas fazendas.

13- Se tem ermidas, e de que santos: e se estão dentro ou fora do lugar, e a quem pertencem.

Tem dentro da Villa huma Sumptuosa Igreja de Nossa Senhora dos Martires que ainda não está fabricada em todo o simo da Villa, no mesmo lugar em que antigamente houve uma Ermida da mesma Senhora, que ha poucos anos se demoléo, a qual Igreja ha mais de cem anos se começou; cuja despeza se faz pella renda da dita Senhora que hum ano por outro faze de renda trez mil cruzados tem quatro Capelaens de Missa quotidiana, um Capellao que se diz Capellao da cera que diz Missas dos Domingos e Dias Santos comtados os Sabados (m)as conta com assistencia dos mais. Este tem de renda vinte e sete mil reis cada ano; e os mais cincoenta e dois cada hum he esta Igreja haverá 30 0u 35 anos de Protecção Real. Tem mais trez Ermidas huma de Santa Ana, outra de São Pedro e outra de São João Baptista; e estão demolidas duas mais que tinha, huma da parte, digo uma na entrada da Villa, vindo da parte do Rio Zezere, que era de São Sebastião, de que já não ha vestigios: e outra pouco antes de entrar na Villa, vindo de Abrantes, que era do Apostolo São André: desta ainda se conservam as pareides da Capella mor todas as que existem são anexas à Matriz. Da outra parte do Tejo tem uma Ermida de Santo Antonio; chamado de entre as vinhas em distancia do Tejo dois tiros, ou tres de bala, que he de Proteccão Real.

14- Se acodem a elas romagens sempre, ou em alguns dias do ano e quais são estes.

Assim à Igreja de Nossa Senhora dos Martires, como à ermida de Santo António ha menos de quarenta anos concorriam de romagem muitas pessoas; porem de presente muitas poucas concorrem. Nos meses de Junho, Agosto e Setembro he que costumavam vir, e vem ainda os que vem.

15- Quais são os frutos da terra, que os moradores recolhem com maior abundância?

Os frutos, que os moradores desta terra colhem em maior abundancia he azeite, e algum vinho.

16- Se tem juiz ordinário da Câmara: ou se está sujeito ao governo das juntas de outra terra: e qual é esta.

Tem Juizes Ordinarios e Camera.

17- Se é couto, cabeça de concelho, honra ou beetria.

Não he Couto, Cabeça de Concelho, Honra ou Behetria.

18- Se há memória de que floreciam, ou dela saíssem alguns homens insignes de virtude, letras ou armas.

Em virtudes e Armas não ha memoria que florecessem pessoas algumas. Em letras floreceram D. Francisco de Sande que foi Desembargador da Relação, e Mesa dos Agravos Senhor de hum nobilissimo palacio chamado da Torre, fabricado entre os dois mencionados Rios, o qual hoje se acha arruinado, mas nos vestigios se deicha conhecer muito bem a sua magnificiencia. Instituio o morgado que tem nesta Villa a casa de D. Gastam Coutinho. D. Fernando de Sande seu irmão que foi apositor em a Universidade de Coimbra, e Colegial em o Colegio de São Pedro. O Dezembargador João Pinheiro que foi apositor em Coimbra e Colegial em o Colegio de São Paulo, e Dezembargador do Paço que assistio em Madrid, no tempo em que Felipe 1º deste Reino, e 2º de Castella, era Rei e Senhor deste Reino. O Dezembargador Juze Pinheiro que foi Conselheiro do Concelho da Fazenda. O Dezembargador João Pinheiro filho do immediato assima que foi Conselheiro da Fazenda. O Dezembargador Manoel Velho de Miranda que foi Dezembargador da Relação. O Dezembargador André Ferreira Lobato Lobo, que foi Corregedor da Civel da Corte. Manoel da Costa de Oliveira que foi Dezembargador da Relação Eclesiastica da Se de Lisboa, antes da divizão; Ouvidor da Capella Real, Prior das Igrejas de São Mamede, e São Cristovão, e Prelado da Prelaria de Thomar.

19- Se tem feira e em que dias e quantos dura e se é franca ou cativa.

Tem feira em sinco de Agosto, que dura trez dias, he cativa.

20- Se tem correio e em que dias da semana chega e parte e se não o tem de que correio se serve e quanto dista da terra aonde ele chega.

Não tem Correio: servesse do Correio de Thomar, que dista trez legoas e do estafeta de Abrantes, que dista duas legoas como se diz assima.

21- Quanto tempo dista da cidade capital do bispado e quanto de Lisboa capital do reino.

Da cidade capital do Bispado esta distante 30 legoas: e da Capital do Reino vinte e huma.

22- Se têm alguns privilégios antiguidades ou outras coisas dignas de memória.

Não se sabe que tenha privilegios alguns nem constam antiguidades dignas de memória.

23- Se há na terra ou perto dela alguma fonte ou água célebre e se as suas águas têm alguma especial virtude.

Dentro na Villa não ha fonte alguma descoberta: nas vizinhanças, algumas ha de especial nota somente são as duas fontes que estão dentro na quinta de Santa Barbara huma chamada fonte de São Francisco que he ferrada, onde de todas as partes ou quasi todas deste Reino; e ainda do Reino de Castella se manda procurar pellas suas virtudes e outra chamada do Castanheiro não ferrada; de que usa muita parte deste povo. A qual quinta está distante desta Villa um quarto de legoa.

24- Se for porto de mar descreva-se o sítio que tem por arte ou por natureza as embarcações que o frequentam e que pode admitir.

Os portos assim do Tejo, como do Zezere são por natureza excellentes; do Tejo porque dos muros do palacio referido assima (a)the ao fim da Villa se forma huma enssiada com pedaço de praia em partes; (?) (?) da terra com o seu tal o qual muro. O Zezere, porque do mesmo palacio (a)the muito alem da Villa por aquela parte tudo he praia, sem muro, e junto ao Tejo vai a estrada Real para a Beira e Castela. O Tejo em todo o ano he navegavel: no Inverno o pudera ser de embarcaçoens de quilha, mas de barcos bateiras e (?) são as embarcaçoens que o navegam; e destas pode admitir todas as que o quizerem frequentar. O Zezere desta terra para sima não tem navegação. Das embarcaçoens referidas podem (admitir) ambos os portos (a)the cento e cincoenta mais.

25- Se a terra for murada diga-se a qualidade de seus muros: se for praça d’ armas descreva-se a fortificação: se há nela ou no seu distrito algum castelo ou torre antiga e em que estado se acha no presente.

Não he murada, nem Praça de Armas, nem tem Castello algum, ou tôrre.

26- Se padeceu alguma ruína no terramoto de 1755 e em quê e se está já reparada.

Não padeceo ruina alguma no terramoto de 1755.

27- E tudo o mais que houver digno de memória, de que não faça menção o presente interrogatório.

Não tem coisa alguma mais digna de memória.

segunda-feira, maio 30, 2005

santa margarida da coutada


não é o fim, nem o princípio do fim, é o fim do princípio