sexta-feira, maio 26, 2006

356 - medronhos bravos


Memória[1]


Olhar para uma página em branco, faz-me sentir como a minha mãe ao olhar a farinha antes de lhe dar forma. Enquanto ela amassa pão... eu amasso palavras, umas com violência, outras com carinho, tentando que ao tendê-las elas tomem um destino, um sabor.

A transição do Inverno para a Primavera, é um período que nos predispõe à reflexão, a efectuarmos balanços.

“Há uma Primavera em cada vida/ É preciso cantá-la assim florida/ Pois se Deus nos deu voz foi para cantar/ E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada/ Que seja a minha noite uma alvorada/ Que me saiba perder p’ra me encontrar”. Estes versos de Florbela Espanca, ajudam-nos a reflectir, a pensarmos no sentido da vida e no sentido da morte, tal como as sementes, também, nós, por vezes, sentimos necessidade de morrer no Inverno para nascer na Primavera.

“Se tu soubesses como o tempo é lento, esperando/ tu voltarias como o Sol na Primavera/ Trazendo molhos de palavras como cravos/Trazendo o grito de uma força que se espera/ E cheira a seiva, medronhos bravos”.

Num tempo de guerras é necessária Paz, é em nós que a devemos buscar. Os versos acima, escritos por Ary dos Santos, falam-nos de um tempo que para muitos deixou de fazer sentido, um tempo em que os cravos brotavam no cano das G3, um tempo em que a seiva escorria nas árvores (não nos parques ambientais), um tempo em que havia medronheiros (antes de os asfaltarem)... um tempo em que a LIBERDADE, mais que um sonho, era um desígnio.

Vou terminar como comecei, com uma reflexão sobre a família, o gratificante que é colher o que se semeou, numa terra adubada com o sangue, o suor e as lágrimas dos nossos... o bom que é molhar o pão no azeite que esmagámos ou beber o vinho que calcámos com os nossos pés.

[1] s.f. faculdade que o espírito tem de evocar fenómenos passados; fama; exposição sumária; pl. escrito em que o autor narra factos que ele presenciou ou em que participou.

2 Comments:

Blogger Paula NoGuerra said...

Somos os grandes artistas das nossas vidas. Somos pessoas com grandes capacidades de mudar o mundo, se quisermos... depende de nós o que queremos que o mundo seja... grão a grão enche a galinha o papo...
Amassa tudo bem, como melhor de convier, os outros fazem o mesmo!
Sente e ama tudo á tua volta e sê a pessoa que escolheste ser!
Sê tu!
Namaste
Pa*********

sexta-feira, maio 26, 2006 10:27:00 da manhã  
Blogger Alien David Sousa said...

Gostei Pedro. Ponto final.

sábado, maio 27, 2006 9:07:00 da tarde  

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