sábado, maio 20, 2006

352 - galo novo, galo velho


«Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia»
Shakespeare
Quando ontem coloquei isto:

VC said...

O GALO VELHO E O GALO NOVO

Um fazendeiro resolve trocar o seu velho galo por outro que desse conta das inúmeras galinhas.
Ao chegar o novo galo, e percebendo que perderia as funções de cobridor do galinheiro, o velho galo foi conversar com o seu substituto:

- Olha, sei que já estou velho e é por isso que meu dono te trouxe para cá, mas tu poderias deixar pelo menos duas galinhas para mim.

- Que é isso, velhote?! Vou ficar com todas!

- Mas só duas... Ainda insistiu o galo velho.

- Não. Já disse! São todas minhas!

- Então vamos fazer o seguinte, propõe o velho galo, apostamos uma corrida em volta do galinheiro. Se eu ganhar, fico com pelo menos duas galinhas; se eu perder, são todas tuas.

O galo jovem mede o velho de cima a baixo e pensa que, certamente, este não será capaz de vencê-lo.

- Tudo bem, velhote, eu aceito.

- Já que, realmente minhas chances são poucas, deixe-me ficar vinte passos à frente, pediu o galo velho.

O mais jovem pensou por uns instantes e aceitou as condições do galo velho.

Iniciada a corrida, o galo jovem dispara para alcançar o outro galo. O galo velho faz um esforço danado para manter a vantagem, mas rapidamente está a ser alcançado pelo mais novo.
Nesse momento, o fazendeiro pega na espingarda e atira sem piedade no galo mais jovem.

Guardando a arma, comenta com a mulher:

- Não estou a entender ... !
Já é o quinto galo gay que a gente compra esta semana!
O filho da mãe largou as galinhas e estava correndo atrás do galo velho!!!??
- Moral da história:

NADA NEM NINGUÉM SUBSTITUI A EXPERIÊNCIA!
estava longe de imaginar que fosse um tema polémico, li o texto, apenas, como uma piada...

As lutas de galos fazem parte de algumas culturas, existem.

No caso em apreço podemos olhá-lo de três formas e retirarmos uma moralidade diferente de acordo com esse olhar.

Do ponto de vista do fazendeiro:

O homem do campo (como eu) avesso à mudança. O Sol sempre nasceu por trás daquele monte e sempre se pôs lá ao fundo junto ao rio. O galo velho galava as galinhas.
Porquê agora estes galos novos a correrem atrás do galo velho?
Teriam visto o filme do Ang Lee?

[como rapaz do campo, afirmo que os galos não são mortos à cartuchada, corta-se o pescoço e aproveita-se o sangue para fazer arroz de cabidela].

Do ponto de vista do galo novo:

O galito presunçoso, fanfarrão e arrogante (o Mourinho da capoeira) não lhe basta chegar e desempenhar a sua função, sente prazer na humilhação, não vê o «outro» como um colega mais velho e experiente, despreza-o como o governo despreza os excedentários, depois duma vida de trabalho e dedicação, o velho, o galo velho seria, apenas, um fardo.

Do ponto de vista do galo velho:

O sábio, aquele a quem a vida ensinou muito, retira da experiência, ensinamentos (o Pacheco Pereira da quinta) a sabedoria da calma e da ponderação.
Sabe que o seu tempo está acabar, mas, não se resigna a ser encostado.
Poder-se-á retirar, mas, sempre a lutar, daí o desafio ao primeiro galo [neste primeiro desafio ele não podia antecipar o que ocorreria ou dir-lhe-ia a experiência que o fazendeiro tomaria aquela atitude? nunca o saberemos...] poderia perder, perderia lutando...

Respeito os comentários que foram colocados na caixa de comentários do «post» anterior.
Estão muito bem fundamentados, vejo a «blogosfera» assim mesmo um espaço leal de debate e de partilha de opiniões.

[novidades no «lomo»]

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Querido Amigo,

Respeita mas, pelos vistos, não gostou. E vai daí, em vez de lhes responder igualmente na caixinha, em jeito de nota de rodapé - onde a visibilidade será, por certo, pouca, tratou de responder com um Post. E fez muito bem.

Todavia, deixa-me esclarecer que não foi, e não é, minha intenção polemicar o que quer que seja.
Penso, contudo, que sou intelectualmente livre. E é essa liberdade intelectual que me permite discordar das lições de moral que me querem inpingir.

Ou seja, limitei-me a discordar da moral da história que foi apresentada. Limitei-me a discordar dela e expliquei, ou pelo menos esforçei-me por explicar, o porquê da discordância.

E mesmo agora, continuo a pensar, ao contrário do defendido por ti, que o jogo, ou desafio como agora lhe chamas, era o meio e o resultado (a morte do novo) o fim.

Se assim não fosse, encontrarias, muito provavelmente, respostas para as minhas perguntas:

- O que aconteceu aos outros quatro galos?

- quatro NUMA semana?

- porquê é que o fazendeiro lhe chamaria "quinto galo gay"?

- Não é isso suficientemente indiciador de que os anteriores 4 galos foram submetidos ao mesmo jogo e tiveram o mesmo resultado?

Pedro pensa: o jogo nada tem de ofensivo, não fosse o galo velho saber de antemão que jogá-lo era, aos olhos do fazendeiro, demosntrar que o galo jovem é gay. Caracteristica mais que suficiente, independentemente das suas qualidades de cobridor, para sentenciá-lo com a morte.

A premeditação vil do galo velho está claramente implicita no facto da história nos revelar que era "o quinto galo gay numa semana".

Imagina que qualquer um dos quatro primeiros galos jovens ganhava a corrida. Qual era o resultado? o galo velho ficava com duas galinhas. E se os galos jovens perdessem o jogo?

sábado, maio 20, 2006 3:00:00 da tarde  
Blogger pedro oliveira said...

1. Respeita mas, pelos vistos, não gostou

Respeito e gostei, por isso disse:
«vejo a «blogosfera» assim mesmo um espaço leal de debate e de partilha de opiniões»

2. Penso, contudo, que sou intelectualmente livre. E é essa liberdade intelectual que me permite discordar das lições de moral que me querem impingir.

Concordo e subscrevo.

3. O jogo, ou desafio como agora lhe chamas, era o meio e o resultado (a morte do novo) o fim.

Nada há na história (na minha opinião) que nos permita chegar a essa conclusão.

4. O que aconteceu aos outros quatro galos?

Não nos é dito. Podemos especular, julgo que o fazendeiro os terá substituido sucessivamente. A troca de criação (como se diz na minha terra)é comum entre fazendeiros, nada indicia que tenham sido mortos, até pela razão que apontei, os galos não são mortos à cartuchada.

5. Porque é que o fazendeiro lhe chamaria "quinto galo gay"?

Está sub-entendido na história, porque corriam (aparentemente) atrás do galo velho e desprezavam as galinhas.

6. Imagina que qualquer um dos quatro primeiros galos jovens ganhava a corrida. Qual era o resultado? o galo velho ficava com duas galinhas. E se os galos jovens perdessem o jogo?

A resposta a essas perguntas está no texto:
«- Então vamos fazer o seguinte, propõe o velho galo, apostamos uma corrida em volta do galinheiro. Se eu ganhar, fico com pelo menos duas galinhas; se eu perder, são todas tuas.»

Se me dissessem que passaria parte da tarde de sábado a discutir uma anedota não acreditaria, mas, está a ser uma discussão intelectuamente estimulante, eu gosto que me estimulem...

sábado, maio 20, 2006 3:58:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Estou a adorar esta história feita de galos.

De tão velho que era, o galo velho, tinha condições para antecipar o desfecho, logo no 1º desafio. A experiência do galo velho, foi moldada na quinta do fazendeiro. fazendeiro, era galo velho. Galo velho era fazendeiro.

O galo novo, porque partiu da presunção da sua juventude, perdeu. Se não fosse, estar cheio de si, não haveria de ignorar a experiencia vivida do galo velho.
Por um lado, enquanto os galos novos, viverem assim, cheios de si, ensimesmados, nunca mais nos livramos dos galos velhos/fazendeiros e, por outro lado, perpetua-se os preconceitos dos velhos galos; ensimesmados, tb.

O galo velho não se deixa, verdadeiramente, abalar, porque entranhou/experienciou o preconceito do fazendeiro. Está senhor de si e antecipa, nessa experiencia e por essa experiencia, o desfecho.

O galo novo, tb não se abala, verdadeiramente, pela proposta do galo novo, porque não considera o valor da experiencia entranhada/experienciada do preconceito já feita, pelo galo velho. Também está senhor de si. Não antecipa o desfecho, porque não vê para além de si.

Ambos vivem no preconceito.
Nenhum é inocente.

sábado, maio 20, 2006 4:08:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não Caro Amigo. A resposta é: o 1º galo foi submetido ao jogo e morreu. O segundo galo foi submetido ao jogo e morreu. O terceiro galo foi submetido ao jogo e morreu. O quarto galo foi submetido ao jogo e morreu.
O quinto galo foi submetido ao jogo e morreu. Agora estou à espera do sexto galo!!!

Desejosa que este não caía nos "jogos" de galos bandidos que a usam a experiencia e os ensinamentos da vida para transpor os outros.

1º « ...julgo que o fazendeiro os terá substituido sucessivamente. A troca de criação (como se diz na minha terra)é comum entre fazendeiros, nada indicia que tenham sido mortos, até pela razão que apontei, os galos não são mortos à cartuchada.

Respondo assim: «Nada há na história (na minha opinião) que nos permita chegar a essa conclusão.»

2º Tu próprio acabaste por dar a resposta: «Está sub-entendido na história, porque corriam (aparentemente) atrás do galo velho e desprezavam as galinhas.»

É isso tudo. «Corriam» no plural.

ps: se quiseres podemos discutir outros temas que não "uma anedota", desde que igualmente interessantes do ponto de vista intelectual.
ou, podes sempre sair... quem te prende???

sábado, maio 20, 2006 4:18:00 da tarde  
Blogger António Almeida said...

e dura...

sábado, maio 20, 2006 11:16:00 da tarde  
Blogger António Almeida said...

faço comentários curtos para vir cá mais vezes e aumentar o contador :-))
vamos dar um novo fim à história.
(...)
- Que é isso, velhote?! Vou ficar com todas!
- Mas só duas... insistiu o galo velho.
- Ok! Em troca ensinas-me os teus truques!
- Combinado!
A partir desse dia, o galo velho, ensinou ao galaró todos os truques que tinha aprendido ao longo do tempo.
Passado um tempo disse-lhe:
- Olha rapaz! Ensinei-te tudo o que sabia, a partir de hoje estás por tua conta...
O galaró, corre todo o galinheiro... dá uma quec**... duas... três... trinta... cento e trinta... até que se acabam as galinhas e ele cai para o lado.
Quando o galo velho o descobre caído, já os abutres o rondam.
Aflito, o galo velho corre para junto do seu protegido e diz-lhe:
- É pá levanta-te que os abutres já rondam!
O galaró pisca-lhe o olho e diz:
- Deixa-os pousar!!!

Moral da História:
Ao galo do campo nunca falta a vontade... pois a muita experiência só vem com a idade!

sábado, maio 20, 2006 11:35:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

António,
gostei do novo fim que propões.

É como digo no outro comentário: a idade pode levar muita coisa ( e de facto, confirmo que leva) mas trás sabedoria.

domingo, maio 21, 2006 1:25:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

não será, obviamente, "trás" mas sim traz. fica a correcção.

domingo, maio 21, 2006 1:26:00 da manhã  
Blogger Paula NoGuerra said...

A sabedoria é algo que se adquire ao longo da vida enquanto que a beleza nasce connosco mas se perde ao longo da vida...
Pois a verdadeira beleza, assim como essa sabedoria, vem de dentro.
A nossa verdadeira maneira de ser pode ser a coisa mais bela que possamos mostrar ao mundo.
Essa historia dos galos demonstra isso... uma beleza/inteligência interior incomparável!
Um espetaculo!
Bjs
Pa

domingo, maio 21, 2006 2:10:00 da manhã  
Blogger Alien David Sousa said...

Pedrito, já estou a começar a ficar cansada de ter de te dar os Parabéns por mais um excelente Post.
Não vou acrescentar muito porque está lá tudo. Tive de rir com a parte do Mourinho.

Já recebeste o teu prémio??

domingo, maio 21, 2006 3:17:00 da tarde  

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