quinta-feira, agosto 25, 2005

20 - articulações da palavra

I

a palavra fere
e ama
o poema

II

quando verdadeiros
os versos respiram pão

III

nas asas do silêncio
a palavra
deposita
o sal
que abre as pétalas
da esperança

IV

a palavra
é um fogo
com fome
digo o trigo
colhido
(ou semeado)
nos caminhos
de passagem

V

as sílabas
são uma concha
onde as letras
deixam a carne
no grito das palavras

VI

a palavra
é moldada
com o suor
da máquina

VII

este poema foi escrito
com o sangue dos cravos
por isso em cada palavra
há uma primavera aflita

VIII

o amor
é o único fruto
das palavras

este poema de Pedro Jofre foi publicado no suplemento juvenil do Diário de Lisboa em 26 de Maio de 1970.

sexta-feira, agosto 19, 2005

19 - um «post» sobre futebol

O mais confortável seria não escrever este "post".
Há os que dizem que não gostam deste desporto (podemos continuar a chamar-lhe desporto?), outros dizem-se adeptos do Sporting de Braga (Marcelo Rebelo de Sousa) ou da Académica de Coimbra (Manuel Alegre) outros (Luís Filipe Menezes) dizem-se adeptos dum (Sporting C. P.) e prestam vassalagem a outro (F. C. Porto).
Ser adepto dum clube, nunca ou quase nunca, é uma opção consciente, somos (tornamo-nos) adeptos por influência do nosso pai, do nosso avô, daquele jogador que nos tocava... no meu caso... pai, avô e Yazalde.
O pai e o avô podem ter tido muito importância, mas, eram os golos marcados pelo goleador argentino, que eu ouvia no rádio no domingo à tarde e concretizados em imagens a preto e branco no domingo à noite que faziam sonhar a criança que fui.
Anos mais tarde o primeiro jogo ao vivo no defunto estádio José de Alvalade... Sporting 7 Benfica 1 a partir daí o meu coração só tem uma cor, verde e branco (adaptado do defesa direito do F.C. Porto - João Pinto).
Neste momento (agora) recordo o meu avô Jacinto, dedico estas palavras ao sr. Ludgero... conto com a memória dum, com a presença do outro... acredito que ambos desejam um país, um concelho e uma freguesia melhores.
ESFORÇO, DEDICAÇÃO, DEVOÇÃO e GLÓRIA, orgulho-me de pertencer (ser adepto) dum clube que tem esta divisa.
Primeiro o esforço, a seguir a dedicação e a devoção depois a glória.
Cada vez que calço uns sapatos de corrida a minha glória é terminar... cada vez que calço umas "chuteiras" de "futsal" a minha glória é participar.
É assim que estou no desporto e na vida procurando que com o meu modesto contributo e exemplo possa a ajudar a construir uma freguesia melhor. Uma freguesia onde as pessoas não se sintam excluídas pelas suas opiniões sejam elas clubísticas, políticas ou outras.
Só unidos podemos construir um futuro melhor.

18 - entre a liberdade e a lei... III

As dúvidas do Gaspar
(Sérgio Godinho/Jorge Constante Pereira)

Quem sou eu? - disse eu
só que ninguém respondeu, ninguém
mas o que foi que me deu
para estar hoje assim?

Estou aqui, se estou
mas para onde é que eu vou, quem sou?

quinta-feira, agosto 18, 2005

17 - entre a liberdade e a lei... II

O escritório dum "blogger"...
Ao longe uma ventoinha e uma televisão sem som, na mesa, um livro de poemas, uma garrafa de água mineral, um "Público" de 2005.08.16 (recortei a carta dum leitor sobre um tema que é recorrente neste "blog", melhor decidir e errar que não tomar nenhuma atitude) um "cd" dos "Filhos da Madrugada" cantando canções de José Afonso... outro "cd" "Biografia do Fado" vai acompanhando este "teclar"...neste momento canta Alfredo Marceneiro (G.Pereira da Rosa)... "Há um lenço à despedida/Há um jeito de revolta/O regresso traz a vida/Renasce a vida na volta."
Só quem nunca arriscou partir desconhece o prazer do regresso.
Em cada partida morro um pouco, cada vez que volto ao sorriso dos meus pais renasce a vontade de lutar por lhes proporcionar uma velhice melhor... que o final possa ser o princípio de algo melhor, que no fim sejam felizes.
Para cada velho (já perceberam que não tenho medo desta palavra) a felicidade é acariciar/educar uma criança. Um dos sonhos que tenho para a minha freguesia é um local (Centro de Dia / Tempos Livres) onde as crianças convivam, devidamente, enquadradas com os avós, um espaço de continuidade entre o passado, o presente e o futuro.

16 - entre a liberdade e a lei... I

Oásis (Pedro Homem de Mello)

Aquela praia-contraste
Entre a liberdade e a lei
(Aquela praia ignorada!)
Foste tu que ma mostraste
Ou fui eu que a inventei

Curioso, estas palavras lembram-me estas:
"Quem aqui vier morar
Não traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constrói uma cabana

Tu trabalhas todo o ano
Na lota deixam-te mudo
Chupam-te até ao tutano
Levam-te o couro cab'ludo" (José Afonso).

Direita/Esquerda; Rico/Pobre; Monarquia/República; Norte/Sul...são palavras sem sentido que só adquirem substância quando explicadas e (des) contextualizadas.
Poder-se-á ser ao mesmo tempo monárquico de esquerda, pobre e do sul?... talvez! depende, apenas, daquilo que estejamos a falar.

Lençol de areia queimado!
Ai! aquela praia! Aquela
Que, na minha embriaguez
Manchei sem dó! Fiquei triste
Logo da primeira vez

Ora, aqui está um "post" complicado porque a vida, também, não é fácil... um "post" que dedico a António Almeida com votos sinceros de férias felizes.

terça-feira, agosto 09, 2005

15 - palavras...leva-as o vento II

Os "santamargaridenses" sabem que, provavelmente, serei o único "bloguista" que sugeriu o nome para uma biblioteca municipal (http://www.cm-constancia.pt/) nome esse que foi aceite (direitos de autor, népia).Esse facto não me impede de admirar O' Neill ... "vai de metro Satanás"...pois é, pensamos em Londres, não é?

14 - palavras...leva-as o vento I

Partir é morrer um pouco (M. Barreto / António dos Santos)

Adeus parceiros das farras
Dos copos e das noitadas
(...)
Canto de esperanças frustradas
Alvorada de saudade


Se há algo bom em partir, é a certeza do regresso...

Meu coração como louco
Quer desgarrar-me do peito
Transforma em soluço a voz
Partir é morrer um pouco
(...)

Partir é estender os braços
Aos sonhos que não se alcançam
Cujo destino é ficar.

Melhor que partir e provarmos que somos bons...é regressarmos para provar que podemos fazer as coisas bem.
Melhor que ser-se passivo sendo bom, é ser-se activo fazendo bem o que faz falta.

Deixo a minh'a alma no cais
De longe canso sinais
Feitos de pranto a correr
Quem morre não sofre mais
Mas quem parte é dor demais
É bem pior que morrer


Aquele que vai não é o mesmo daquele que volta.
São Pessoas diferentes.
O que volta não é igual ao que não arriscou ir.
O primeiro purificou-se...nas palavras imortais de O' Neill provou que "há mar e mar, há ir e voltar"... o segundo, bem o segundo, optou por não tomar banho.

13 - non ou a vã glória de mandar III

O «post» número 13.
Será azar?
Em Outubro veremos...gostaria apenas de poder escrever:
- «santamargarida ... onde o sol já brilha.»
Gostaria que a vã glória de mandar fosse substituída por pessoas com vontade de trabalhar.
Veremos...

12 - non ou a vã glória de mandar II

CADEIRA-TRONO
VOCACIONADA PARA O PODER
ESTE MONUMENTO ANTI-MONUMENTO
SEM PÁTRIA E SEM IDADE
CRIADO PARA SERVIR A TODOS
E NINGUÉM
É TAMBÉM O RETRATO POSSÍVEL
DOS INSTANTES QUE VAMOS TENDO
NO ARRISCADO PERCURSO
DAS NOSSAS HISTÓRIAS


Assim mesmo, com letra maiúscula, esta inscrição está na base do (na minha opinião) mais belo monumento de Lisboa.
Situa-se na Alameda, em frente ao Instituto Superior Técnico, no extremo oposto da Fonte Luminosa. Até, simbolicamente, está bem situado.
Está encoberto pelas infindáveis obras do metro...encoberto mas presente.
Uma criação de Sam (http://www.lambiek.net/sam.htm) que aprendemos a admirar noutras artes.

terça-feira, agosto 02, 2005

11 - non ou a vã glória de mandar I

Baseado na história de Portugal, Non ou a Vã Glória de Mandar, recorda as batalhas travadas pelos portugueses desde o tempo de D. Afonso Henriques até à guerra colonial.
O filme é mais uma reflexão sobre a História de Portugal, do que propriamente história. É uma forma particular de ver alguns acontecimentos que mais marcaram Portugal, ligando a Batalha de Alcácer Quibir ao 25 de Abril. Na primeira morremos e na segunda morreu o Alferes Cabrita.


* João Bénard da Costa - Ficha da Cinemateca Portuguesa, 8 de Março de 1991.

Não deixa de ser curioso que uma das primeiras imagens que vemos neste filme de Manoel de Oliveira seja uma “berliet-tramagal”, matrícula MX-53-34.
Uma frase: “o soldado está sempre errado nas guerras, pá, nunca está por causa própria”.
não é o fim, nem o princípio do fim, é o fim do princípio