Partiu pela última vez em direcção à palavra - Fim - a abanar os pés e a agitar a bengala em 25 de Dezembro de 1977, tinha oitenta e oito anos e chamavam-lhe Charlot.
Falar em morte em dia de renascer?
O miúdo quando nasceu tinha o destino escrito na palma da mão, o olhar sereno, os braços esticados, como que abraçando o mundo, como que pregados.
É a nós, a cada uma de nós, que cabe despregar os braços e usá-los para abraçar.
O que nos prende?
O que nos liberta?
Olho Charlie, fazia rir mas não ria, raramente, ria nos filmes.
O filme da vida não é uma piada.
Não é, não deverá ser, algo demasiado sério.
Recordo, mais uma vez, as palavras de Adolpho Rocha (Miguel Torga) para Ramalho Eanes:
- Seja sério mas não se leve muito a sério.
Hoje é dia de nascer, que seja, também, dia de pensarmos o sentido da
coisa.