quarta-feira, abril 27, 2011

0081/2011 - josé, o envergonhado que nos envergonha

esta imagem mostra-nos a expulsão do defesa jorge andrade, a expulsão mais injusta que aconteceu no futebol mundial... reparem quem está no banco do porto.
hoje diz que se sentiria envergonhado, terá sentido vergonha naquele dia, na invicta?
terá sentido vergonha em milão, no ano passado, aquando da vergonhosa arbitragem de benquerença?
padecerá para além da forma intrincada (quatro defesas em linha e três trincos) com que pensa o futebol, duma vergonha selectiva?
vergonha, vergonha, será depois do quarto jogo com o barcelona ter perdido duas vezes, empatado outras tantas, ter encaixado oito golos e marcado um (refiro-me a golos marcados durante o período regulamentar, excluindo, portanto, prolongamentos e desempates através de pontapés da marca de grande penalidade).

terça-feira, abril 26, 2011

0080/2011 - rua g ande, despe & jica em constância

a constância do meu tempo e a de agora são diferentes, do mesmo modo as palavras glande e grande têm diferentes significados.
gostava mais dela dantes, grande, acolhedora, com respeito por si própria e pelos outros.
constância em tempos foi uma vila limpa, asseada, hospitaleira.
o ano passado acolheu-nos com cobardes tiros pelas costas.
este ano com genitálias desnudadas (imortal expressão de luís pereira de sousa).
será diferente esta constância?
é, sem dúvida.
nunca antes, uma associação, glandemente, financiada pela câmara municipal de constância, teve a ousadia (para não dizer outra coisa) de ir ao barreiro contratar artistas, da arte de tirar roupa.
assim meninos e meninas, senhores e senhoras tiveram oportunidade de assistir no dia que marcava a transição entre o domingo de páscoa e a segunda-feira da liberdade, não a uma nova alvorada de abril, mas a uma alvorada de mamil (de mamilos).
pergunto (pergunto-me) já não podemos estar sossegados nas festas, num grupo de amigos, pais e filhos que se divertem, sorriem, lembram tempos de meninice, petiscam e bebericam sem que nos caiam no prato umas mamas e o rabo dum gajo?
não sei a quem endereçar as perguntas se à jica (que nunca escondeu ao que vinha) se à senhora dona câmara municipal que lhes deu de mão beijada o melhor espaço nas festas...

quarta-feira, abril 20, 2011

0079/2011 - cataplasmas de argila, cânfora, palavras escritas e esquecimentos

chamava-se louise, tinha onze meses e morreu.
louise nunca lerá as aventuras de tintin nem se indignará com o suposto racismo do jornalista das calças de golf e do inexistente bloco de notas.
tintin é um jornalista extravagante, os pais de louise, também.
Quando teve bronquite, os pais não seguiram a recomendação médica e submeteram-na a um tratamento natural com argila e cânfora — a cânfora provoca insuficiência respiratória a crianças abaixo dos 36 meses, — que tiraram de um livro dos anos 50.
Jeanne Dextreit, a autora, com 89 anos, foi chamada a testemunhar: “Na época não dispunhamos de coisas, como anti-inflamatórios. É preciso reflectir, porque o livro é muito antigo”, frisou.
jeanne remete-nos para o contexto em que escreveu o livro, há cerca de sessenta anos, bienvenu mbutu mondondo não conseguiu ter o distanciamento da anciã, não pensou que o mundo em 1931 era muito diferente deste, onde vivemos.
os livros não são bons nem maus, úteis ou inúteis são, objectos que devemos utilizar, usando o nosso discernimento como sacho que monda a seara e separa o pão do joio.
um livro podemos pousá-lo, deixar de lê-lo se o conteúdo não nos interessar, uma filha, contudo, não deveria sofrer e pagar pelos nossos esquecimentos, esquecermo-nos que somos omnívoros, por exemplo.
fontes & alambiques

quarta-feira, abril 13, 2011

0078/2011 - homens que não gostam de mulheres e nos desgovernam

um homem, uma mulher, duas pessoas.
gosto de nos pensar como pessoas.
há homens que não gostam de mulheres, acham-nas incapazes e inferiores.
há mulheres que gostam de pessoas, sofia, por exemplo...
sofia, uma mulher de causas, uma mulher que não se põe em causa.
obviamente demitam-na, terá dito, o coiso, o ex-coiso...

sexta-feira, abril 08, 2011

0077/2011 - baxtalo romengo lumiako dives


O dia 8  de abril foi instituído em todo o mundo como o Dia Internacional dos Rom. Esta é certamente uma data importante para todos nós. Foi precisamente nesta data em 1971, que percebemos que pertencíamos  a um povo que tinha uma história comum, uma cultura comum, tradições comuns e uma linguagem comum. Ouso dizer que nesse dia começou a regeneração do nosso povo.
Em 08 abril de 1971 começou-se a escrever a história moderna da nossa comunidade.
Quem teve a grande sorte de participar neste congresso que estamos testemunhando, assistiu ao ressurgimento dum povo humilde e martirizado que nunca se curvou às adversidades e que preferiu, em todos os lugares, em cada país, em todas as latitudes do universo vivo, pobreza e  marginalização, em vez de deixar de ser ciganos.
Em 8 de abril passam quarenta anos desde que um grupo de ciganos de 25 países se reuniu em Londres, sem saber, talvez, que começaramos a escrever uma das páginas mais importantes e de esperança do nosso povo.
A partir dessas lembranças e como alguns dos ciganos se reuniram em Londres não estão mais entre nós, deixem-me fazer um convite àqueles que ao redor do mundo, exercem algum tipo de liderança na nossa comunidade.
O 8 de abril de 2011 deve ser de uma solenidade excepcional.
O 8 de abril de 2011 deve ser um dia especial para todos nós, para todos os ciganos do mundo.
Que a sociedade em que vivemos saiba que os ciganos estão a comemorar o nosso dia. Naquele dia, ficamos com a bandeira Rom, azul e verde como símbolo das posses de um povo que é considerado cidadão do mundo; o tecto azul do céu e o  chão em campos verdes.
Em 8 de abril de 2011 será realizada em Londres, um evento especial que deverá adquirir uma dimensão universal. Esse dia não pode passar despercebido pelas pessoas no Reino Unido que teve a honra de acolher-nos e começarmos a partir daí a viagem do nosso futuro.
Deixem-me fazer este apelo, tendo  a humildade de reconhecer que somos a comunidade cigana mais separada de todos os nossos irmãos que vivem na Europa Central e Oriental e dos nossos irmãos das duas Américas.
Nós ciganos sofremos todas as formas de perseguição no passado, a ponto de fazerem com que perdessemos a nossa língua, romani, violentamente, perseguidos pelos governantes no passado, instamos as autoridades da União Europeia, o Conselho da Europa, de das Nações Unidas para abraçar este apelo e fornecer-nos razões  para comemorarmos com entusiasmo e esperança uma data que todos os ciganos temos gravada no coração.
Alguém deveria  acolher este chamamento.
Juan de Dios Ramírez-Heredia, Presidente de la Unión Romani de Espanha
A tentativa de tradução é minha, o original pode ser lido aqui.
Termino com um grande abraço para o povo cigano, especialmente, para a comunidade portuguesa.

quarta-feira, abril 06, 2011

0076/2011 - às vezes o futebol, mais que paixão, é amor

ah este caminho em flor, cheio de sol, perfumado com o nosso amor, cantavam os heróis do mar, o perfume, neste caso, é o cheiro a relva molhada, o amor, é a paixão irreprimível que leva um treinador, eufórico, a beijar o árbitro; o amor como nosso destino, por vontades do coração, diziam os heróis.

domingo, abril 03, 2011

0075/2011 - zé pedro e a geração à rasca

a equipe de reportagem do santamargarida [sm] numa entrevista exclusiva com o homem que inventou a expressão: geração à rasca.
sm - zé pedro [zp] sente-se à rasca como a geração à rasca?
zp - não, não me sinto à rasca, aliás, nem aprecio a expressão, tal como não me sentia à rasca em 1999 quando a criei (à expressão: geração à rasca). estar à rasca é um estado de espírito, repara, passaram uma dúzia de anos e tudo aquilo que apontei nesse artigo continua actual, nomeadamente, a preocupação com a educação e com a empregabilidade.
sm - gostarias que te tivessem atribuído a autoria da expressão?
zp - terei, certamente, muitos defeitos, mas essa vaidadezinha «do fui eu que fiz», «fui eu que disse», «olhem para mim que sou tão lindo», julgo que não tenho. devo ser dos únicos portugueses que têm um blog há mais de cinco anos e não possuem uma conta no facebook. respondendo à pergunta, sim, porque acho que é, intelectualmente, honesto, citarmos aqueles em quem nos inspiramos, por outro lado, é-me indiferente...
sm - no teu artigo és muito crítico com premiar-se o mérito, porquê?
zp - essa é a tua interpretação. numa leitura aprofundada daquilo que escrevi poder-se-á chegar a outras conclusões. aquilo que disse há doze anos e continuo a pensar agora, é que não faz sentido uma câmara comunista incentivar a colocação de alunos em quadros de honra, criando uma competição não desejável entre meninos e meninas de proveniências muito diversas. em vez de premiar o mérito (dessa maneira, com dinheiro, diplomas, beijinhos e fotografias no boletim municipal) dever-se-ia incentivar o companheirismo, a integração, a ajuda entre os «melhores» e os «piores» alunos. julgo que é um disparate total «pagarem-se» as boas notas dos melhores alunos.
sm - achas que foi esse facilitismo comunitário e camarário que conduziu à actual «geração à rasca»?
zp - tenho a certeza que sim. esses miúdos (estou a generalizar, algo que não gosto de fazer) nunca tiveram de lutar por nada, cresceram com corn flakes e televisão no quarto, com play-stations, portáteis, telemóveis, i-pods, i-pads, bikes, motinhas e carrinhos (e outras coisas que eu nem sei o nome). com roupa de marca e saídas à noite. cresceram sem o serviço militar obrigatório no horizonte mas com a risonha carreira de estudantes universitários, em universidades e ou em cursos manhosos; depois acabaram o curso, voltaram a casa, depararam-se com o pai desempregado, a mãe doméstica e eles sem dinheiro para carregarem o telemóvel, para a gasolina do carro, para, para, para...
sm - achas então que a culpa da «geração rasca» estar à rasca é deles?
zp - não. acho que é nossa. minha. tua. da geração que tem agora quarenta e tal anos e (estou, novamente, a generalizar) criou, está a criar os filhos numa redoma de vidro e a endividar-se para lhes comprar dessencialidades. como dizem os americanos: no pain, no gain; sem sofrimento não há recompensa, uma geração que conseguiu tudo de mão beijada, dificilmente, conseguirá adaptar-se  a  uns tempos de luta e de sofrimento que se avizinham, que se adivinham. pior ainda, quando beberam nos bancos da escola o veneno do individualismo e da fotografia no quadro de honra.
sm - obrigado pelas tuas palavras, queres deixar alguma sugestão ao sm?
zp - sim. escreve algo sobre isto.
fontes & alambiques
não é o fim, nem o princípio do fim, é o fim do princípio